letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
27
Jun 05
publicado por RAA, às 01:02link do post | comentar | ver comentários (4)
Estou cheio de vontade de postar; apetecia-me pôr aqui as caras do Macherot e do Galsworthy, mas tenho de partir cedo, naquela estrada. Fica para daqui a uns dias. Desejem-me sol.Posted by Hello

26
Jun 05
publicado por RAA, às 16:25link do post | comentar | ver comentários (4)
Retrato de Arnold van Westernhout Posted by Hello

publicado por RAA, às 16:22link do post | comentar
Senhor:

Com esta remeto a Vossa Majestade a relação do que se tem obrado na execução da lei de Vossa Majestade sobre a liberdade dos índios. Muitos ficam sentenciados ao cativeiro por prevalecer o número dos votos mais que o peso das razões. Vossa Majestade, sendo servido, as poderá mandar pesar em balanças mais fiéis que as deste Estado, onde tudo nadou sempre em sangue dos pobres índios, e ainda folgam de se afogar nele os que desejam tirar perigo aos demais. Contudo se puseram em liberdade muitos, cuja justiça por notória se escapou das unhas aos julgadores. Tudo o que neste particular, e nos demais se tem obrado a favor das cristandades, e em obediência da lei e regimento de Vossa Majestade, se deve ao governador André Vidal, que em recebendo as ordens de Vossa Majestade, se embarcou logo para esta capitania do Pará, a dar à execução muitas coisas, que sem a sua presença se não podiam conseguir. Se o braço eclesiástico ajudara ao secular, tudo se pusera facilmente em ordem e justiça; mas, como as cabeças das Religiões têm opiniões contrárias às que Vossa Majestade manda praticar, estão as consciências como dantes, e o que não nasce destas raízes dura só enquanto dura o temor. Já dizem que virá outro governador, e então tudo será como dantes era; e eu em parte assim o temo, porque todos os que cá costumaram vir até agora traziam os olhos só no interesse, e todos os interesses desta terra consistem só no sangue e suor dos índios.
De André Vidal direi a Vossa Majestade o que me não atrevi atègora, por me não apressar; e, porque tenho conhecido tantos homens, sei que há mister muito tempo para se conhecer um homem. Tem Vossa Majestade mui poucos no seu reino que sejam como André Vidal; eu o conhecia pouco mais que de vista e fama: é tanto para tudo o demais, como para soldado: muito cristão, muito executivo, muito amigo da justiça e da razão, muito zeloso do serviço de Vossa Majestade, e observador das suas reais ordens, e sobretudo muito desinteressado, e que entende mui bem todas as matérias, posto que não fale em verso, que é falta que lhe achava certo ministro grande da corte de Vossa Majestade. Pelo que tem ajudado a estas cristandades lhe tenho obrigação; mas pelo que toca ao serviço de Vossa majestade (de que nem ainda cá me posso esquecer) digo a Vossa Majestade que está André Vidal perdido no Maranhão, e que não estivera a Índia perdida se Vossa Majestade lha entregara. Digo isto porque o digo neste papel, que não há-de passar das mãos de Vossa Majestade, e assim o espero do conhecimento que Vossa Majestade tem da verdade e desinteresse com que sempre falei a Vossa Majestade, e do real e católico zelo, com que Vossa Majestade deseja que em todos os reinos de Vossa Majestade se faça justiça e se adiante a fé. A muito alta e muito poderosa pessoa de Vossa Majestade guarde Deus como a Cristandade e os vassalos de Vossa Majestade havemos mister. Pará, 6 de Dezembro de 1655.
António Vieira
Cartas
(edição de Mário Gonçalves Viana)

publicado por RAA, às 03:36link do post | comentar
UMA COISA A MENOS PARA ADORAR

Já vi matar um homem
é terrível a desolação que um corpo deixa
sobre a terra
uma coisa a menos para adorar
quando tudo se apaga
as paisagens descobrem-se perdidas
irreconciliáveis

entendes por isso o meu pânico
nessas noites em que volto sem razão nenhuma
a correr pelo pontão de madeira
onde um homem foi morto

arranco como os atletas ao som de um disparo seco
mas sou apenas alguém que de noite
grita pela casa

há quem diga
a vida é um pau de fósforo
escasso demais
para o milagre do fogo

hoje estive tão triste
que ardi centenas de fósforos
pela tarde fora
enquanto pensava no homem que vi matar
e de quem não soube nunca nada
nem o nome

Baldios

publicado por RAA, às 03:35link do post | comentar
Fonte: Diário de Notícias da Madeira Posted by Hello

24
Jun 05
publicado por RAA, às 23:59link do post | comentar
1.
SADDAM HUSSEIN EM CONFERÊNCIA ÍNTIMA

Diz as maiores barbaridades diante uma audiência restrita e escolhida.
Fingem que sorvem as suas palavras, como se de ensinamentos do Profeta se tratasse (ou sorvem-nas realmente, para decifrarem o mistério que reside em cada tirano).
Saddam perora, sentencia, pára de falar por segundos que parecem eternidades.
Como que alheio à tragédia que ele próprio é.
I-2003
2.
EMBARQUE
(os marines rumam ao Golfo Pérsico)
Vai, despede-te do pai.
Vai matar ou morrer no
deserto.
As lágrimas embaciam-te
os óculos, e não percebes,
meu pequeno, porque há
homens maus a afastá-lo
de ti.
America will prevail.
Oh yes. Democracy,
como sempre.
Ainda não o sabes, mas
já o perdeste, pequeno.
Mesmo de volta,
virá com a morte
nos olhos. A morte
dos que têm o teu
tamanho, pequeno.
2-VI-2003

publicado por RAA, às 22:11link do post | comentar
Já poeta não sou se a voz eu calo
e nesse estado estou, que é não estar.

Já Poeta

23
Jun 05
publicado por RAA, às 21:49link do post | comentar
Buffy Sainte-Marie é uma cantautora índia cree que me conquistou com Soldier Blue. A sua voz tem o timbre da tragédia, o timbre metálico da incredulidade ante o absurdo da destruição -- mas também, quando se esquece, o tom suave da gratidão pela vida, apesar de tudo.

publicado por RAA, às 21:45link do post | comentar
Posted by Hello

publicado por RAA, às 21:42link do post | comentar
POBRE DE MIM

Pobre de mim
Sonho tanto em ser alguém que não sou
Por exemplo, uma mulher toda assim
Feito a Marilyn Monroe

Já eu, enfim
Não inspiro um grande amor a ninguém
Na verdade, se eu pareço com alguém
É o Popeye, the sailorman
Que mau destino
Não aguento este meu ar de menino
Quem me dera casar com um grã-fino
Ou com um rei, porque não?

Eu não sei a ligação
Eu só sei que dava tudo de mim
Para ao menos parecer Marilyn
E viver um grande amor

Livro de Letras

(edição de José Castello)

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