letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
10
Jul 06
publicado por RAA, às 22:41link do post | comentar
O espelho está lá mas ninguém lá está
É uma cena deserta. O piano e a estante de música
estão vazios; são contornos da sombra
Do lado direito de quem olha daqui, há
uma ampla porta-janela que dava para
uma varanda que daria para uma selva imaginada.

A música que ouves não vem desta sala
Nasce e vem do maciço de árvores escuras
que brilham mais no escuro da noite ultramarina.
Vem do mar que está depois da selva que
está a seguir às árvores de um parque
que é uma memória de pedra que já começou a ruir.

É uma música poderosa mas lenta; feroz e densa
e voraz; selvagem mas não primitiva.
Nos arredores do império, num condomínio
colonial antigo e novíssimo, podes pela música
que sem resgate os dissolveu imaginá-los. Fora
pouco antes de desaparecerem --

Eram já extremos conspiradores sem conspiração,
de si mesmos exilados, perdida a juventude,
perdidos dessa selva em que teriam sido feras
e fora já a sua própria memória. A maturidade
apodreceu-os como uma floresta que se desfaz
na água nostálgica do desejo. A música

essa música num espelho longe foi o que sobrou
fala de um crime passional em que ninguém afinal
morreu, de um segredo partilhado e sem sentido
que ouves uma vez mais nessa voz abafada ou
rouca -- como se diz? -- nessa voz que te transporta
a essa cena deserta onde nunca terás estado.

No espelho longe num oriente extremo não podes ver-te:
não é a tua história; não é a história de ninguém. Mas
podes ver a música que através deles te envenena o sangue.

Migrações do Fogo

publicado por RAA, às 22:40link do post | comentar

publicado por RAA, às 22:21link do post | comentar
Um interessante artigo de Antônio Paim, publicado no Público de hoje, reflectindo sobre os efeitos perversos do multiculturalismo, nomeadamente o da guetização das comunidades islâmicas nas sociedades ocidentais, veio recordar-me que a tolerância religiosa sendo uma conquista civilizacional conceptualmente adquirida, não deve ser considerada «um valor supremo».
Isto parece-me evidente, pois quando uma prática religiosa atenta contra a dignidade individual ou colectiva deverá ser combatida sem tréguas.
Neste particular, a famigerada burka (sem esquecer o tchador, apesar de tudo menos ignominioso), que cada vez mais se vê por aí, é ultrajante. Andar por algumas capitais europeias, torna-se um exercício penoso, porque sabemos que aquelas mulheres estão fortemente condicionadas -- apesar da tagarelice desavergonhada dos círculos islamitas.
Não há culturas de primeira nem de segunda, sabêmo-lo há muito -- mas há mais tempo que sabemos não haver géneros superiores. Por isso, afigura-se-me que uma das principais acções da cidadania europeia deve ser a de erradicar esta opressão bárbara cometida diante dos nossos olhos e com a nossa passividade. Não posso sentir-me livre se os meus concidadãos -- ou aqueles que não o sendo vivem à minha volta -- o não forem também. É uma premissa essencial. Daí que a erradicação deste ranço religioso -- que, aliás, começa a contagiar o discurso público de algum catolicismo -- seja um desígnio (um combate, apetece escrever) vital para a preservação de coisas tão importantes, como a própria paz social, sob pena de ficarmos, a prazo, reféns do extremismo -- religioso, mas também étnico; islâmico, mas também fascistóide --, com o cortejo da sua consabida bestialidade.

mais sobre mim
Julho 2006
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9

22

23



pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO