letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
31
Jan 10
publicado por RAA, às 19:07link do post | comentar | ver comentários (3)
Levantado do Chão, de José Saramago (1980)

O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica, porquanto a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e, apesar disso, de tanto existir, não se acabou ainda. Será porque constantemente muda: tem épocas no ano em que o chão é verde, outras amarelo, e depois castanho, ou negro. E também vermelho, em lugares, que é cor de barro ou sangue sangrado. Mas isso depende do que no chão se plantou e cultiva, ou ainda não, ou não já, ou do que por simples natureza nasceu, sem mão de gente, e só vem a morrer porque chegou o seu último fim. Não é tal o caso do trigo, que ainda com alguma vida é cortado. Nem do sobreiro, que vivíssimo, embora por sua gravidade o não pareça, se lhe arranca a pele. Aos gritos.

[Da 4.ª edição, Editorial Caminho, Lisboa, 1983. Foi o meu primeiro contacto com os romance de Saramago, continuado por alguns anos, depois interrompido e agora retomado, espero. Deu-mo o meu pai, em Novembro de 1983.]

Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio (1944)
A SERPENTE CEGA
-- Mas não voltas mais cedo...
João garcia garantiu que sim, que voltava.
Os olhos de Margarida tinham um lume evasivo, de esperança que serve a sua hora. Era fundos e azuis, debaixo de arcadas fortes. Baixou-os um instante e tornou:
-- Quem sabe?...
-- Demoro-me pouco... palavra! Cursos de milicianos... Moeda fraca! Para a infantaria, três meses. Senão fecharem os concursos para secretários-gerais, então aproveito. Bem sei que há só três vagas e mais de cem bacharéis à boa vida... Mas não tenho medo das provas. Bastam algumas semanas para me preparar a fundo... rever a legislação.
[da colecção "Unibolso", dos Editores Associados, Lisboa, s. d. O melhor romance português desde que existe romance português? Arriscaria... A Margarida Clark Dulmo é a minha heroína de ficção preferida. Comprei-o em Março de 1990]
Memórias da Grande Guerra, de Jaime Cortesão (1919)
O GÉNIO DO POVO
Março de 1916
Mazina, Kuangar, Naulila... Nomes que soam como bofetadas.
depois hesita-se, dispute-se, combate-se. Já a face arrefece. Alguns querem mesmo oferecer a outra. mais um passo: requisitam-se os navios... E a hora grande bateu: estala a declaração da Alemanha.
Na Câmara a sala, de pé, desde as carteiras até às galerias, ao formigueiro humano, delira e aclama com uma só boca: Viva a República! Viva a guerra!
[das «Obras Completas de Jaime Cortesão», Lisboa, Livros Horizonte, 1969. Um livro espantoso. Cortesão, que viria a ser uma das grandes figuras da História de Portugal, ofereceu-se, enquanto médico, como voluntário para as trincheiras da Flandres. Dessa experiência surgiu este relato impressionante. Comprei-o em Novembro de 1989]

publicado por RAA, às 16:22link do post | comentar | ver comentários (3)
Chuck Jones, «The Abominable Snow Rabbit» (1961)

publicado por RAA, às 04:03link do post | comentar | ver comentários (5)
A C., do Marcas d'Água, certificou-me com o Prémio Lobinho -- que traz consigo um questionário inacreditável de extenso. Deveria indicar cinco blogues, mas indicarei todos os da barra lateral. Obrigado C.

a) Tens medo de quê? De quase tudo
b) Tens algum "guilty pleasure"? Avonde.
c) Farias alguma "loucura" por amor/amizade? Já fiz.
d) Qual o teu maior sonho? Acordar bem disposto.
e) Nos momentos de tristeza, abatimento, isolas-te ou preferes colo? Prefiro sentar-me ao colo de mim próprio.
f) Entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida, qual seria a escolha abstracta? A que tivesse sentido de humor.
g) Sentes que te sentes bem na vida, ou há insatisfações para além do desejável? Sinto-me burguesmente bem.
h) Consideras-te mais crítico ou mais ponderado? (mesmo sabendo que há críticas ponderadas). Felizmente crítico; o que, é verdade, não exclui ponderação.
i) Julgas-te impulsivo, de fazer filmes, paciente ou... (define o que te julgas no geral). Impaciente e impulsivo, qualidades morigeradas pela idade. Filmes só no cinema.
j) Consegues desejar mal a alguém e eventualmente concretizar? (Responder com sinceridade). Claro que consigo! No momento do agravo, é claro. Mas sou rápido a secundarizar, felizmente.
k) Conténs-te publicamente em manifestações de afecto (abraçar, beijar, rir alto...). Never.
l)Qual o lado mais acentuado? Orgulho ou teimosia? Orgulho-me de não me achar teimoso.
m) Casamentos homossexuais e/ou direito à adopção? A adopção é um tema importantíssimo; o chamado casamento homossexual é uma patetice sobre a qual nem me dou ao trabalho de pensar dois minutos.
n) O que te faz continuar com o blogue? Divirto-me imenso.
o) O número de visitas ou de comentários influencia o teu blogue? Eu acho que não devia, mas é possível...
p) Na tua blogosfera pessoal e ideal, como seria ela? Tal e qual como a descobri: o fascínio das vozes novas.
q) Devia haver encontros de bloguistas? Caso sim em que moldes e caso não porquê? Talvez por afinidades temáticas e vizinhanças...
r) Sabes brincar contigo mesmo e rir com quem brinca contigo? (Não vale responder com ironias).Espero que sim.
s) Já agora, qual ou quais os teus principais defeitos? Todos.
t) E em que aspectos te elogiam e/ou achas ter potencialidades e mesmo orgulho nisso? Todos.
u) Entre uma televisão, um computador e um telemóvel, o que escolherias? Nunca usei telemóvel, nem sei mexer nisso. A televisão, desde que passou a ter mais de dois canais, nunca mais foi a mesma. Olha, escolhia o computador!...
v) Elogias ou guardas para ti? Elogiar o mérito é uma das minhas maiores satisfações. Até me acho pródigo nisso.
w) Tens a humildade suficiente para pedir desculpa sem ser indirectamente? Sou pouco humilde.
x) Consideras-te, grosso modo, uma pessoa sensível ou pragmática? Nada pragmática.
y) Perdoas com facilidade? Tento. É uma questão de bem-estar.
z) Qual o teu maior pesadelo ou o que mais te preocupa? Sair de casa e deixar a chave lá dentro.


29
Jan 10
publicado por RAA, às 20:54link do post | comentar | ver comentários (5)
Blair, palhaço triste, continuou hoje a aldrabar diante da comissão que averigua as condições em que o Reino Unido se deixou envolver no Iraque.
Milhares de inocentes perderam a vida por causa deste vígaro ignóbil, de braço dado com o asnático Bush, roberto duns miseráveis delinquentes que nem me apetece nomear.
Na cimeira da vergonha dos Açores, em que Barroso serviu de porteiro, compareceu ainda o cretino Aznar, para quem não tenho palavras.

publicado por RAA, às 20:04link do post | comentar

28
Jan 10
publicado por RAA, às 22:48link do post | comentar | ver comentários (1)
capa de João da Câmara Leme para O Barão, de Branquinho da Fonseca
4.ª edição, Portugália editora, colecção «O Livro de Bolso» #38, 1962

publicado por RAA, às 22:42link do post | comentar | ver comentários (2)
Se uma flor requer orvalho / a mulher, que dirá ela.
Homero Homem

publicado por RAA, às 22:26link do post | comentar

27
Jan 10
publicado por RAA, às 22:29link do post | comentar | ver comentários (5)
Ainda no JL (uf!), Luís Bigotte Chorão, autor de A Crise da República e a Ditadura Militar (Sextante), a Rita Silva Freire: «A historiografia não serve para agradar às direitas ou às esquerdas. Nem para as provocar. Serve para reconstituir a verdade histórica, que não deve servir quaisquer outros objectivos. (...) É necessário ter uma perspectiva, que deverá servir apenas à verdade e ao rigor. Porque a História é uma ciência.»
Como não concordar com quase tudo? Embora eu discorde da História como ciência: há sempre o ponto de vista autoral, e portanto subjectivo. A História é uma narrativa, não é um relatório; e como narrativa que é, há sempre um sujeito que a redige; alguém que por muito sério e rigoroso, não consegue eximir-se à sua subjectividade. A subjectividade que o leva a interessar-se pelos concelhos medievais e não pelo absolutismo ou a revolução liberal em vez da inquisição: há sempre um fascínio ou uma repulsa que impelem o nosso interesse ou, mais importante, o nosso desinteresse.

publicado por RAA, às 21:12link do post | comentar | ver comentários (8)
"Europa ou é investigação científica e criação cultural ou não é Europa", escreve Vitorino Magalhães Godinho em Os Problemas de Portugal -- Mudar de Rumo (Colibri), citado por Guilherme d'Oliveira Martins na recensão ao livro, ainda no JL.
E, portanto, Europa é liberdade e pensamento livre, ou não é Europa.

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