letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
30
Abr 10
publicado por RAA, às 22:39link do post | comentar

publicado por RAA, às 11:04link do post | comentar | ver comentários (6)
A coluna de Paul Krugman no i de hoje é completamente elucidativa quanto à natureza das chamadas "agências de rating" -- Standard & Poor's, Moody & outras associações de malfeitores.
Não é de admirar que os filisteus do costume se papagueiem mutuamente, defendendo que não interessa nada se as avaliações são justas ou injustas, quando muitos deles sabem bem do que se trata, sem precisarem, como eu preciso, de ler o Nobel da Economia para tentar perceber alguma coisa deste caos. O espaço público está cheio de ruído, a propósito de tudo e de nada.
O que verdadeiramente me espanta é a ausência de liderança europeia, a pequenês política dos dirigentes europeus -- todos à espera que a tia rica nos ampare, sem que se destaque uma voz forte, audível para lá das fronteiras da União, dando um murro na mesa para afirmar que os países que a constituem não podem estar nas mãos de chicos-espertos.
Não temo pela Grécia, nem por Portugal, porque a tia rica vai ser obrigada a abrir os cordões à bolsa para safar os sobrinhos estróinas; temo, sim, pela saúde da União Europeia. E das duas, uma: ou percebemos que não podemos continuar nestas meias-tintas para-federalistas e vamos mais longe, numa integração de tipo confederal, em que não haja lugar para habilidades gregas, ou o projecto europeu tornar-se-á uma miragem, sucumbindo aos egoísmos próprios dos estados e à pouca grandeza de quem os lidera. Há, fora da Europa -- e também dentro -- quem esteja interessado nisso.

29
Abr 10
publicado por RAA, às 23:38link do post | comentar
Assis Esperança -- E improvida continuaria, se não viesse ocupar, naquela casa, o invejado lugar de filha adoptiva, criado para ela -- mais difícil, tão difícil, que muita vez apelava angustiada para a sua firme resolução de ser alguém, tapando a boca a repostadas e rebeldias. -- Servidão (1947)
Vergílio Ferreira -- Um silêncio súbito, silêncio da terra. Só vozes ermas dos campos, ouço-as no calor parado da tarde. Reparo agora melhor no pequeno jardim. Uma selva bravia. As plantas selvagens irromperam de todo o lado, aos cantos dos muros à volta, junto à casa. Há algumas armações de madeira ainda, já apodrecidas, suspensas de arames, sem flores. -- Para Sempre (1983)
Carlos Vale Ferraz -- Tiraram lentamente as mochilas de cima dos ombros e morderam os lábios com a dor dos músculos dormentes cortados pelas correias de lona. Esfregaram a cara e os cabelos molhados da transpiração com o lenço verde do regulamento, ou mesmo com o quico camuflado, um bonezinho em feitio de canoa, de aba curta e quebra-nuca para proteger a cabeça dos ardores do sol. -- Nó Cego (1983)




publicado por RAA, às 20:58link do post | comentar

28
Abr 10
publicado por RAA, às 23:14link do post | comentar | ver comentários (1)
Tenho sofrido. Digo isto como se dissesse: tenho vivido. Fujo dos pleonasmos. Bourbon e Meneses
Novos Solilóquios Espirituais

publicado por RAA, às 00:48link do post | comentar

27
Abr 10
publicado por RAA, às 23:27link do post | comentar
A ÚLTIMA ESPERANÇA

Chivera
naquela manhã viera
trazer o filho que morria
no armazém do patrão
para receber a guia
do lactário que dá injecção.

Disseram-lhe
que ele não podia
ser dispensado do serviço
só porque o filho tinha feitiço
e não comia há dois dias!

Na outra manhã
Chivera
já não trazia
o filho que morria
mas sim os olhos chorando
a boca muda protestando
a última esperança perdida;

só os sacos de milho
das lavras dos seus irmãos
no armazém esperavam
a hora das suas mãos
para mais um dia de vida...

Poesia / No Reino de Caliban II
(edição de Manuel Ferreira)

publicado por RAA, às 23:08link do post | comentar

26
Abr 10
publicado por RAA, às 23:42link do post | comentar | ver comentários (2)
Na madrugada escura, o homem ergueu o peito e soprou no búzio o último aviso. O som atravessou a vila e ganhou eco na encosta do castelo, estalando como um ai. Cães responderam com uivos, de focinho curvo para o céu, e um galo, atónito entre tanto mistério, gritou pelo Sol.


Manuel da Fonseca,
«Sete-estrelo», Aldeia Nova
(imagem)


publicado por RAA, às 20:30link do post | comentar


mais sobre mim
Abril 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9





pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO