A Rui Galvão de Carvalho
Escrevo e sofro... Em cada verso inteiro
Fica-me a alma entre um soluço e um ai...
-- Eu molho a pena, sim, no meu tinteiro,
Mas é do coração que a tinta sai!
Na carne dos meus versos, reparai,
É que eu me vejo e sinto verdadeiro.
-- Neles prendesse a vida que se esvai
E o meu fim não viria tão ligeiro!
Ah, nunca mais morrer! Ambição louca!
Ser imortal, andar de boca em boca,
Nos versos que componho -- anseio atroz!
Desse às palavras o meu sangue quente:
-- Já que viver não posso eternamente,
Eterna, ao menos, ficaria a voz!
Vozes do Mar e do Vento