letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
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Jan 12
publicado por RAA, às 19:31link do post | comentar

     As nossas sociedades estão sob um violento ataque do capitalismo argentário, sem escrúpulos nem rosto. A única resposta séria é política -- que não se verificou por vários motivos, entre os quais a fraqueza das lideranças europeias (Merkel, Sarkozy, Berlusconi, por razões diferentes) e os interesses divergentes do país de Cameron, a outra grande potência da UE.

 

     Neste contexto, em que os países periféricos (ou não) procuraram passar por esta crise como por entre os pingos da chuva, abdicando de se concertarem, ganhando algum músculo político, remetendo-se a um isolamento receoso do contágio da lepra grega -- neste contexto Portugal não risca nada, é irrelevante.

 

     Bem podemos nós vociferar e ir para a rua -- e devemos fazê-lo, apesar de tudo -- que o governo, acolitado por boa parte do PS, toma as medidas que lhe dá na gana. E não é uma greve geral realizada em mês de subsídio de Natal que o vai demover, tanto mais, que o PC e o BE tiveram uma votação residual, e as ordeiras e «enquadradas» manifs do PC e da Inter não assustam ninguém. Logo, no nosso isolamento europeu e na fraqueza  da esquerda contestatária, estamos nas mãos dos interesses financeiros, interpretados domesticamente por um alienígena leve e fresco como o ministro da Economia ou por um contabilista de cálculo indiferenciado como o ministro das Finanças.

 

     A decisão, difícil, da UGT, do tipo vão-se os anéis mas fiquem os dedos, talvez tenha sido, apesar de tudo, a menos prejudicial para quem trabalha. Concedo que a CGTP não poderia nunca ter assinado aquele acordo, mas como daí não retirará as ilações que se imporiam -- contestação a sério na rua, como o fizeram os gregos (sem resultados, na sua solidão, reconheça-se...), o mais que tem a fazer é: ou vir a terreiro, levantar barricadas e passar ao ataque -- ou, na sua impotência,  não vir com o insultozinho fácil e miserável a João Proença, que teve mais dignidade naquela assinatura do que alguns sindicalistas profissionais cheios de garganta -- e só garganta -- que ontem se passearam até São Bento.


Sim, mas não venha o J. Proença dizer - como disse a Maria Flor Pedroso - que tinha sido pressionado por figuras da CGTP para assinar o dito acordo. Era algo que nunca poderia dizer, ainda que tal estratégia pudesse eventualmente ter existido no seio do movimento sindical.
O que eu acho é que estamos lixados. Um governo miserável que pede sacrifícios sempre aos mesmos, um sindicalismo ultrapassado, e uma consciência colectiva que começa a formar-se em como tem de ser assim porque de outra forma ainda será pior.
Queria ver se não acabava os meus dias neste país, nem nesta Europa - mas infelizmente não sei se tal será possível.
Manuel Nunes a 20 de Janeiro de 2012 às 12:41

Pois, meu caro, em circunstâncias normais, daria a impressão de que o Proença estaria a tenta limpar-se; mas acredito que o homem, depois daqueles cartazes miseráveis, terá perdido a tramontana, escancarando as conversas entre UGT e CGTP.
Eu acho que estamos lixados, por duas razões: a primeira, é porque somos portugueses e miseráveis (continuamos a pagar caro séculos de "descobrimentos" e de Inquisição, e ainda ontem, antes do 25A, éramos desgraçadamente subdesenvolvidos); a segunda, é porque somos de tal forma irrelevantes (porque medianamente civilizados -- as nossas elites são um eloquente exemplo dessa mediocridade), que só nos resta aguardar que tomem conta de nós: os europeus ou os nossos irmãos angolanos e brasileiros.
Creio que estávamos no bom caminho para superar o nosso atavismo de pobreza; agora estamos a marcar passo, pelo menos.
Podíamos ser um país pequeno (médio, em termos europeus) com influência e autoridade dada pela nossa antiguidade; mas não: somos um país de empregados de mesa entretidos pela intriga dos futebóis, de sopeiros anestesiados pelas revistas cor-de-esterco, de homens públicos fala-baratos e de má fama.
Já nos foi dada a oportunidade de mudar. Melhorámos um pouco, mas será que alguma vez deixaremos de ser um país que não presta (como muito bem o classificou António Vitorino de Almeida?).
RAA a 20 de Janeiro de 2012 às 15:05

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