Nesse dia não fui à escola, houve azáfama de supermercado, passei a tarde a ouvir rádio, encerrei a noite a ver o Spínola na televisão. Tinha quase dez anos. Para trás, recordava-me que havia uma prisão em Caxias, onde estavam uns coitadinhos duns presos que não tinham feito mal a ninguém; e vira, poucos anos antes, da janela da minha sala, uma carga policial, com cães e tudo, sobre uns guedelhudos que iam assistir a uma sessão de «canto livre» no Estoril. A música do 25 de Abril de 1974 será sempre, para mim, o Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, do José Mário Branco.