letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
04
Jun 05
publicado por RAA, às 16:24link do post | comentar
V. Senhoria sempre me faz mercês: eu as tenho por tão infalíveis como quem conhece o ânimo de V. S. e como quem lho não desmerece com o seu ânimo. Por cá, tudo são desastres: Francisco Rodrigues Lobo morreu afogado no Tejo, que até nas águas há ingratidões! Na desgraça foi poeta. E enfim era entre nós só o que imprimia. Mortes de fogo também não faltarão. De dar e tirar a vida servem os elementos. A D. Rodrigo Caldeirão não faltam versos castelhanos nem portugueses, inda que maus. Eu também atirei ao alvo mas errei, como costumo. V. S. o verá neste soneto, porque vai de outra letra para que se leia bem. Fico ao serviço de V. S. como sempre. A quem Deus guarde e toda esta casa pede benção.
Lisboa, a 6 de Dezembro de 1621.
Andrée Rocha, A Epistolografia em Portugal

publicado por RAA, às 00:26link do post | comentar
EVOLUÇÃO

(A SANTOS VALENTE)

Fui rocha, em tempo, e fui, no mundo antigo,
Tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onde, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem -- e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, na imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

Sonetos Completos, edição de Oliveira Martins

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