[...] Deus infligiu ao Papalagui* um castigo ainda pior do que o medo: a luta entre os que têm pouco ou nenhum «meu» e os que de muito se apropriaram. É uma luta encarniçada e sem merçê, a que se trava noite e dia. Todos eles sofrem com essa luta, que lhes tira a alegria de viver. Os que são ricos deveriam partilhar aquilo que têm, mas esses nada querem dar. Os que nada têm querem que lhes dêem alguma coisa, e nunca obtêm nada. Estes, também não é pela glória de Deus que combatem: ou tardaram simplesmente em roubar, ou nisso se mostraram desajeitados, ou, por último, nunca se lhes proporcionou a ocasião. Muito poucos se dão conta que estão de facto a pilhar o reino de Deus.
O Papalagui
(tradução de Luiza Neto Jorge)
*«Papalagui», o homem europeu, o branco em geral.