Peniche, 5-IV-1966
Meu filhito muito querido
O paizinho vive ainda a bela alegria de te ter beijado e à Lelinha e ter visto como os meus filhitos pequeninos são bonzinhos e muito amigos. Alegrias que nunca hão-de ser esquecidas.
Foi pena, por estar tanta gente, não podermos conversar ainda mais um bocadinho pois eu gostava muito de saber coisas da tua escola e das tuas brincadeiras. Estou muito grato aos Padrinhos pelas valiosas lembranças enviadas embora se me parta o coração pela despesa suplementar que tudo isso acarreta. Claro, meu Toinito, cá tivemos nesse dia uma grande festa com tudo isso. É pena, porém, que cada «festa» destas signifique um ano mais na idade do pai e um de menos nas possibilidades de viver mais perto de ti, da Lelinha, da Mãe e de todos de quem gostamos.
Fiquei preocupado com a informação do ortopedista quanto aos teus pezitos. Não abriu nenhuma perspectiva de melhoria e cura futura, incluindo por meios cirúrgicos? Apesar de tudo o que é preciso é fazer o que ele recomenda: os tratamentos, os exercícios e, ora!... correr na praia e no parque sem atrapalhações! Já enviei o garrafão e seguirá em breve a marmita. As caixas de cartão serão precisas? Então e já fazes o «puzzle» sozinho? Gostei muito da tua cartinha. Hoje vai aqui outra máquina em que o pai trabalhava -- uma fresadora. Já há quase 25 anos que não lhe pego mas é mais ou menos assim. O Padrinho um dia mostra-te uma a sério... Para eles, com renovados agradecimentos e desejos de boa saúde vai um afectuoso abraço para ti, meu queridito, vão beijinhos ternos e um abraço apertado do
Pai
É uma máquina bonita, não é?
Se estudares para engenheiro és depois capaz de fazer máquinas como esta e até mais bonitas!
Olaré!
Saudades... Não Têm Conto -- Cartas da Prisão para o Meu Filho Tóino