letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
27
Mai 06
publicado por RAA, às 15:53link do post | comentar
Lisboa, 7 de Fevereiro de 1949
Exm.º Sr. Professor Dr. Marcelo Caetano:
Acuso recebida a carta de V. Ex.ª datada de 5, que só hoje li por ontem ter sido domingo e, enviada para o meu escritório, só hoje me chegou às mãos.
Não desejo travar polémica com V. Ex.ª, nem pretendo voltar mais ao assunto, mas a carta de V. Ex.ª sugere-me certas observações que, como sempre, lealmente faço.
1.º -- Uma personalidade da responsabilidade política de V. Ex.ª não deve contentar-se com «informações diversas» para fazer afirmações da natureza das que fez, relativamente à minha posição política, sabendo, mais a mais, que a censura não permitiria total rectificação, como neste caso se deu, por isso que, conforme carta que possuo do Exm.º Director do Diário Popular, trechos houve da carta que dirigi a V. Ex.ª que foram cortados pelo lápis azul.
2.º -- Ainda que concedendo como concedo, é de estranhar que não tenham passado pela cabeça de V. Ex.ª as possíveis consequências da sua afirmação, sabendo-se, como se sabe, a forma por que são perseguidas as pessoas suspeitas de simpatia com o Partido Comunista. Ora, V. Ex.ª, declarando que eu possivelmente advogava a fusão de um partido socialista com o Partido Comunista, devia prever que bem poderia fazer incidir sobre mim, senão neste período pelo menos findo ele, uma acção de natureza policial.
E, repare V. Ex.ª: se eu, sem ser comunista, ainda há menos de 2 anos experimentei bem amargos setenta e sete dias de isolamento na Penitenciária de Lisboa, fechado dia e noite numa cela, sem poder produzir qualquer trabalho, sem ter sequer a meia hora diária de ar livre -- que se não nega nem aos assassinos nem aos gatunos --, sem poder ter comigo um lápis ou uma caneta, e um bocado de papel, o que não me poderia estar guardado, agora, com esta inocente recomendação de V. Ex.ª?!
3.º -- Insisto: não sou comunista, não sou dirigente socialista, não encabeço qualquer corrente doutrinária; sou republicano, partidário de uma democracia actual e progressiva que, orientando-se no sentido do socialismo, faça, sem abalos escusados, as profundas reformas sociais e económicas que entendo o País necessita sejam feitas. Não me interessa a colaboração com o Partido Comunista; o que me interessa, como democrata, é que a todo e qualquer partido político seja reconhecido o seu direito de cidade. Não percebo, por isso, muito bem a referência que V. Ex.ª faz acerca da minha «simpatia pela colaboração com os comunistas». Suponho que já é mais do que tempo de todos os portugueses serem leais uns para os outros, e não me parece que esta forma, usada na sua resposta, esteja perfeitamente de acordo com essa lealdade. Estarei em erro? Só V. Ex.ª me poderá esclarecer.
De V. Ex.ª, com a devida consideração
Pela Liberdade

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26
Mai 06
publicado por RAA, às 23:32link do post | comentar
A DIGNIDADE DA ALMA E VAIDADE DA VIDA

Quem pudesse mostrar o que tem na alma
Pera desenganar em tudo a vida!
Mas não sinto ninguém que trate da alma,
E todos a esperança põem na vida.

O Céu é verdadeiro lugar da alma,
E à terra basta dar-lhe o corpo e a vida,
Pois não podem ter fim os males da alma,
E passam, como sombra, os bens da vida.

Se queremos saber o preço da alma,
Vejamos que pôs Deus por ela a vida,
E viveremos nEle, Ele em nossa alma.

O mundo é sonho vão que enleia a vida.
Quem nele está melhor, tem pior alma,
E quem o desprezou, tem alma e vida.

Poesias Selectas
(edição de Augusto C. Pires de Lima)

publicado por RAA, às 23:31link do post | comentar

25
Mai 06
publicado por RAA, às 22:43link do post | comentar
Protágoras das pedras.

publicado por RAA, às 20:34link do post | comentar
Jackson Pollock, A Caminho do Oeste
Smithsonian American Art Museum, Washington

24
Mai 06
publicado por RAA, às 22:17link do post | comentar
A incerteza de tudo / na certeza de nada.
Carlos Drummond de Andrade

publicado por RAA, às 22:15link do post | comentar

publicado por RAA, às 19:35link do post | comentar
A imensa maioria das biografias humanas são uma transição baça entre o espasmo familiar e o esquecimento.
No Castelo do Barba Azul
(tradução de Miguel Serras Pereira)

23
Mai 06
publicado por RAA, às 19:19link do post | comentar | ver comentários (2)
Aquela minha alegria
Era alegria nervosa.
Essa falsa alegria que buscamos
Para mostrarmos aos outros
No primeiro momento
De uma grande tristeza.

E as grandes tristezas são assim:
Cravam-se fundo, bem fundo;
Até parecem perdidas
Lá dentro do coração;
-- Nem o coração as sente.
Porém,
O engano dura pouco;
Primeiramente,
São gotas de pranto amargo,
Lamentos,
Raiva suave,
-- Depois: a resignação;
Um sorriso que parece desdenhoso.

Um tristíssimo sorriso.

-- Um sorriso doloroso.

Curiosidades Estéticas

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