Joel Serrão, que morreu ontem, era um dos maiores historiadores portugueses da segunda metade do século XX -- período aliás riquíssimo da historiografia nacional: Vitorino Magalhães Godinho, António José Saraiva, Jorge Borges de Macedo, Joaquim Veríssimo Serrão, Oliveira Marques, José-Augusto França, António Borges Coelho, José Mattoso, só para falar em alguns dos grandes. O seu Dicionário de História de Portugal é mesmo um dos dois pilares do que neste campo se fez em Portugal na centúria passada (o outro é a famosa "História de Barcelos", a História de Portugal dirigida por Damião Peres).
Se o Dicionário seria suficiente para creditar o seu nome como um dos maiores historiógrafos do seu tempo, a obra vasta que deixou mais não faz do que fixá-lo como um dos mais notáveis de todas as épocas. Recordo a relação de fontes de história contemporânea, que publicou com Miriam Halpern Pereira, trabalho de sapa, tão ingrato quão necessário; os notáveis temas oitocentistas, sobressaindo um forte pendor ensaístico -- dos estudos sobre a experiência oitocentista do tédio às reflexões sobre a noite natural e a noite técnica, os estudos sobre emigração, as magníficas abordagens à obra de escritores como Cesário, Antero, Bruno, Pessoa, Eça... (O Primeiro Fradique Mendes é um título absolutamente referencial, pela argúcia crítica e informação erudita, na selva da bibliografia queirosiana.) E muito mais, que nem sei nem caberia aqui se o soubera
Além do mais, era o meu historiador preferido.