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Mar 08
publicado por RAA, às 22:45link do post | comentar
esta semana n'O Vale do Riff

publicado por RAA, às 16:42link do post | comentar | ver comentários (5)
Por ocasião da recente visita do Dalai Lama a Portugal, deparei-me com um argumento extraordinário, aduzido por algumas pessoas que pretenderam justificar o aflito jogo de escondidas das nossas autoridades perante o líder espiritual dos tibetanos e chefe de Estado no exílio: a de que o Tibete, à data da invasão chinesa era uma teocracia, um estado "feudal" em que o povo pobre sustentava uma classe sacerdotal ociosa. Esse argumento fez-se agora ouvir de novo, a propósito dos acontecimentos em Lhassa. E, muito curiosamente, muitas dessas vozes vinham da "esquerda".
«Então e depois?», pergunto eu, sabendo que de facto assim era, que o progresso material introduzido pela China é indesmentível, provavelmente superior até àquele que Suharto promoveu em Timor-Leste, à custa do extermínio de um terço da população.
Dizer que o actual Dalai Lama era um jovem soberano confinado ao Palácio do Potala, com meios rudimentares para se aperceber do mundo em que vivia e sem o altíssimo brilho de estadista que hoje detém, nem sequer é argumento. O princípio essencial aqui é o da autodeterminação dos povos, este é o velho princípio que política e eticamente deve contar. O que me parece inaceitável naquele argumento perverso é o de que o desenvolvimento dos povos possa ser feito contra esses mesmos povos.
Por outro lado, alguns dos que adoptam esse ponto de vista indulgente para com os chineses, estiveram -- e muito bem -- contra a ocupação de Timor. Mais: estiveram contra Salazar e Caetano na guerra colonial, injusta, imoral e pérfida... Para esses, portanto, libertação dos povos só quando convém ou se encaixa na percepção formatada da realidade. É o caso das risíveis declarações justificadoras de Jerónimo de Sousa -- aliás, personagem com a qual simpatizo --, muito preocupado com as dificuldades levantadas à China e aos seus Jogos Olímpicos, e logo numa sessão de denúncia da criminosa guerra do Iraque. Curioso caso de indignação à medida das conveniências... O que Jerónimo não diz, porque não quer, é que os tibetanos aproveitam os holofotes da mediatização para se livrarem do jugo chinês, jugo esse que lhes trouxe muitas estradas, muitos automóveis, muitos benefícios do progresso, mas sob a pata opressora do ocupante.
Haverá luta mais legítima?

publicado por RAA, às 16:12link do post | comentar

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