A adoração do milhão!... É um sentimento baixo, comum não só aos burgueses, mas também à maior parte de nós, os pequenos, os humildes, os que não têm onde cair mortos neste mundo. Eu própria, apesar das minhas ideias desempoeiradas e das minhas ameaças de partir tudo, não lhe escapo... Eu, a quem a riqueza oprime, que lhe devo as minhas amarguras, os meus vícios, os meus ódios, as mais amargas de todas as minhas humilhações, os meus sonhos impossíveis e o martírio eterno da minha vida... eu própria, repito, assim que me encontro na presença de um rico não posso deixar de o olhar como um ser excepcional e belo, como uma espécie de divindade maravilhosa, e, mal-grado meu, para além da minha vontade e da minha razão, sinto subir do mais fundo de mim mesma para esse rico, tantas vezes imbecil e perigoso, como que um incenso de admiração.
Diário de uma Criada de Quarto(tradução de Adelino dos Santos Rodrigues)