Pesem todas as reservas que nos suscita o regime chinês -- conseguindo a proeza, por um lado, de concentrar o pior do totalitarismo, no que respeita a uma sociedade policiada e opressiva e o capitalismo mais selvagem, por outro (e não me repetindo sobre a questão do Tibete) --, há dados que devem ser ponderados: desde logo, depois da brilhante inauguração das Olimpíadas, a convicção de que esta civilização milenar, contemporânea dos berços mesopotâmico, egípcio e grego pré-clássico da nossa, está cheia de futuro; e quem se nos apresenta desta forma tão pujante não pondera a possibilidade de estagnação. Ora isto quererá dizer que a China contemporânea será progressivamente menos consentânea com a ausência de liberdade que uma população cada vez mais informada e exigente tenderá a rejeitar.
É também muito significativo que este velho país, humilhado nos últimos dois séculos pelas potências imperialistas ocidentais e pelo Japão, e tendo sofrido a vesânia dos desmandos maoistas, dê esta volta por cima -- e por cima do estádio, como o fez o antigo campeão olímpico na tarde passada, para todos vermos...