A chuva cai continuamente,
Sobre a rua inteira,
Sobre a cidade inteira,
Sobre todos que passam,
Sobre mim.
Molhado e regelado,
Espero e desespero
Que esta chuva passe,
Que esta terra passe,
Que esta vida passe,
Ficando longe de mim.
Algo que possa voltar aos sítios percorridos,
E bem amados,
E esquecidos
Para melhor os poder amar.
Algo que possa regressar à vida existida
E mal trocada por esta
Em que só a chuva cai perpetuamente,
Em que nada persiste,
Senão o marulho da chuva
No cano de zinco,
O asfalto encharcado
E a água correndo para a sargeta.
Algo que possa voltar a encontrar-se em mim.
S. Paulo, 29.