letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
27
Jan 10
publicado por RAA, às 21:01link do post | comentar | ver comentários (7)
António-Pedro Vasconcelos, a propósito de «A Bela e o Paparazzo», também no JL e em entrevista a Maria João Martins, diz-se surpreso pela dimensão do fenómeno das revistas alegadamente cor-de-rosa: «Percebi que as vidas das pessoas são muito tristes e desinteressantes, a ponto de as levar a projectar nos outros uma vida excitante que não têm.»
Ontem, passando por duas mulheres: «Diz que a Alexandre Lencastre emagreceu quatro quilos...»

publicado por RAA, às 20:43link do post | comentar | ver comentários (4)
valter hugo mãe em entrevista a Maria Leonor Nunes: «Um livro escreve-se sempre a partir de rupturas ou para chegar a elas. [...] Não tenho paciência para livros que não rompam com nada, que não digam mais do que o rame-rame quotidiano.»
Se se escreve porque sim, e é assim que deve ser, só tem sentido publicar se for para acrescentar, com rupturas ou sem.

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Luís de Sousa Rebelo. Eugénio Lisboa e Júlio Moreira evocam Luís de Sousa Rebelo (Lisboa, 1922 -- S. João do Estoril, 2010) no JL de hoje. Dele tenho ideia da solidez e da discreção dum autor de escol, mais dado ao trabalho académico que à diuturnidade crítica, que falava com propriedade de Fernão Lopes como de José Saramago, que quando vinha a(o grande) público, os seus textos eram lidos com a atenção que se dá aos mestres. Dele tenho apenas A Concepção do Poder em Fernão Lopes (Livros Horizonte), de leitura sempre desgraçadamente adiada. Não o sabia militante do PCP, desde 1948.

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26
Jan 10
publicado por RAA, às 20:57link do post | comentar
VENTO DE LIBERDADE


Das entranhas da terra
irrompe um vento alucinado
que varre... varre... varre
as folhas secas do mundo...


Vento que geme e uiva fundo
e fere como punhais
o coração dos mortais...

Vento horrível e cruel
que espezinha e enrodilha
e dá guerra sem quartel...


E ora rasteja em gemidos,
ora se eleva em furores
e uiva como um trovão,
mas em todos os sentidos
é VENTO DE LIBERDADE
que o pobre mundo assombrado
pretende reter na mão...

Poemas / No Reino de Caliban II
(edição de Manuel Ferreira)

publicado por RAA, às 20:27link do post | comentar | ver comentários (2)

25
Jan 10
publicado por RAA, às 20:30link do post | comentar | ver comentários (7)
O amor é o estado em que o homem mais vê as coisas como elas não são.


O Anticristo
(tradução de Tavares Fernandes)

publicado por RAA, às 19:35link do post | comentar

24
Jan 10
publicado por RAA, às 20:29link do post | comentar | ver comentários (4)
O Egipto (1869/1926), de Eça de Queirós
Cádis
Domingo.
Ontem dobrámos o cabo de S. Vicente sob um luar digno dos dramas de Shakespeare. O mar infindável, sereno, sem trevas, mas belamente escuro, tremia sob o grande raio luminoso da lua, como os antigos animais sob a carícia dos profetas.
[Das «Obras de Eça de Queiroz», publicadas pela Livros do Brasil, Lisboa, s.d. Na companhia do conde de Resende, o chevalier de Queiroz parte para Oriente a assistir à inauguração da grande obra de engenharia de Lesseps, o canal do Suez. Estas «notas de viagem» só foram editadas postumamente pelo primogénito do escritor, José Maria. Uma jóia da bibliografia queirosiana, da literatura de viagens, das nossas letras em geral. (Deu-mo o meu pai, em Março de 1988.)]

Fanga, de Alves Redol (1943)
Antes da cheia grande
Naquela altura o meu pai fazia fanga e eu tinha começado a ajudá-lo no trabalho, embora pouco ou nada fizesse de proveito. Mas sempre me ia habituando, porque no campo, mal a gente deita fora as fraldas -- isto é um modo de dizer, pois julgo que nunca as usei, a supor pelo que vejo nos cachopitos --, começa logo na lida, até depois de os braços e as pernas não darem jeito a mexer-se.
[Da 4.ª edição, na velha e boa colecção "Os Livros das Três Abelhas», Publicações Europa-América, Lisboa, 1958. O meu primeiro contacto com a prosa límpida e viril de Redol. Muito melhor que o célebre Gaibéus (1939); não me surpreendeu nada que nas «Cinco notas sobre forme e conteúdo», António Vale (aliás, Álvaro Cunhal), tivesse destacado a Fanga, os Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, e A Lã e a Neve, de Ferreira de Castro, como três dos melhores exemplos da literatura progressista (a expressão é minha) da época. Comprei-o em Dezembro de 1983].
A Farsa, de Raul Brandão (1903)
-- Ai que ma levam!, ai que ma levam!
Uma nuvem desce da serra: arrastam-se os rolos pelas encostas pedregosas e depois as baforadas espessas abafam de todo a vila. E noite, cerração compacta, névoa e granito formam um todo homogéneo para construírem um imenso e esfarrapado burgo de pedra e sonho. Pastas sobre pastas de nuvens álgidas, que a noite transforma em crepes, amontoam-se na escuridão. O granito revê água. E sob a chuva ininterrupta, sob as cordas incessantes, a vila, envolta na treva glacial, parece lavada em lágrimas...
-- Ai que ma levam!
[Das «Obras Completas de Raul Brandão», no Círculo de Leitores, Lisboa, 1990. Comecei pelo teatro de Brandão: O Gebo e a Sombra, O Avejão, O Doido e a Morte; os "romances" de Brandão são únicos, e única é a sua voz. (Compreio-o em Agosto de 1998]

publicado por RAA, às 02:45link do post | comentar | ver comentários (2)

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