A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis (1868). Ao cair de uma tarde de Dezembro, chuvoso, frio, açoutado do sul e sem contrafeitos sorrisos de primavera, subiam dois viandantes a costa de um monte por a estreita e sinuosa vereda, que pretensiosamente gozava das honras de estrada, à falta de competidora, em que melhor coubessem.
[na Livraria Civilização, Porto, 1987. Júlio Dinis, estupidamente menosprezado, é um autor central do romance português do século XIX. Comprei-o em Junho de 1989.]
Nó Cego, de Carlos Vale Ferraz (1983).A PRIMEIRA OPERAÇÃODou caça aos inimigos e os exterminoE não volto sem que os tenha aniquiladoDe tal forma os aniquilo e despedaço que não mais se levantam..................................................................................................................Gritam por socorro mas não há quem os salveEu os trituro como ao pó da terra.BÍBLIA, CÂNTICO DE DAVID
1. Um comando não tem fome nem tem sede...
Finalmente veio a ordem desejada, murmurada no passa-palavra, da frente para a retagurada da companhia de comandos:
-- Parar para almoçar, meia hora, a última equipa monta segurança.
[na Livraria Bertrand, Amadora, 1983. Nunca a guerra me tinha surgido tão de perto. Um livro admirável, um livro para a História. Deu-mo a minha mãe, em Junho de 1983.] Para Sempre, de Vergílio Ferreira (1983)Para sempre. Aqui estou. É uma tarde de verão, está quente. Tarde de Agosto. Olho-a em volta, na sufocação do calor, na posse final do meu destino. E uma comoção abrupta -- sê calmo. Na aprendizagem serena do silêncio. Nada mais terás de aprender? Nada mais. Tu, e a vida que em ti foi acontecendo. E a que foi acontecendo aos outros. É a História que se diz? Abro a porta do quintal. É um portão desconjuntado, as dobradiças a despegarem-se. Há muito tempo já que aqui não vinhas. Sandra era da cidade, gostava da capital, detestava a vida da aldeia. Lá ficou.
[da 11.ª edição, na Bertrand Editora, Venda Nova, 1998. O culminar dum percurso literário de décadas. Nos dois sentidos: é um dos seus últimos livros; mas, principalmente, é uma narrativa brilhante, de quem já muito havia escrito e que atinge a sua própria perfeição. Comprei-o em Setembro de 2001.]