«Entrámos no século sem bússola.», incipit do último livro de Amin Maalouf. A bússola era o socialismo, sequestrado pelo marxismo-leninismo nos países da órbita soviética, e suas dissidências. Após a derrocada, e a metamorfose chinesa, resta (resta?) o pensamento único e transnacional das corporações e as santas religiões. Contra isto, só um máximo de liberdade, o debate permanente, a multiplicação dos movimentos cívicos, culturais, ecológicos, a consciência e o empenho individual.
Louis La Guigne (em português, Luís Má-Sorte), grande bd, argumento de Frank Giroud e desenhos dos malogrado Jean-Paul Dethorey. Um saboroso misto de Bernard Prince e Corto Maltese.
António José Saraiva, exilado em França, viveu o Maio de 68. Dele deixou testemunho em Maio e a Crise da Civilização Burguesa, que acabei há pouco de ler. Primeira impressão: o mesmo estofo intelectual que se vê nos seus trabalhos de história da cultura; o ex-militante comunista, tido por guardião da ortodoxia jdanovista nos tempos da Vértice, surge liberto, aspirando a grandes golfadas o ar livre da insurreição; clara atracção pelo anarquismo; crítica lucidíssima ao sovietismo.
Na Patagónia, de Bruce Chatwin, e O Papagaio de Flaubert, de Julian Barnes, dois dos primeiros títulos da Quetzal, em 1989. Comprei-os logo, seduzido pelo formato e fascinado pelas capas soberbas de Rogério Petinga. E não me arrependi. O livro de Barnes e uma digressão cheia de espírito pelo criador da Madame Bovary; o de Chatwin é talvez o mais fascinante livro de viagens que me foi dado ler. Voltei a pegar nele, vinte e um anos passados, e o encantamento ressurgiu de imediato.
Leio uma resenha biográfica da autoria de Elisa Areias, n' A Batalha, sobre Irena Sendler, a enfermeira polaca que salvou duas mil e quinhentas crianças do extermínio.