Esther Mucznick, que gosto sempre de ler no Público, mesmo quando, por vezes, não concordo com ela, pergunta-se, hoje, porque razão existe uma sanha contra Israel, «o único Estado do mundo ao qual nada se perdoa.» É evidente que existe um duplo critério, quando se aborda o conflito israelo-árabe. Por cá, uns patetas alucinados continuam a destilar o seu anti-judaísmo patológico -- em Portugal!, o país com o sangue mais impuro da Europa, nação cheia de judeus, berberes, negros que desde o século XV se miscigenaram com os indígenas locais, mais um punhado de celtas, ao Norte...
À esquerda, esquerda festiva, estúpida e inconsciente, gemina-se com Gaza... Tenho, também, lido em sítios na net, alegadamente marxistas (ou marxizantes), tiradas anti-semitas duma indignidade atroz.
Mas há uma coisa que Esther Mucznick tem de perceber: não há a mínima paciência ou tolerância por parte de alguns amigos e admiradores de Israel -- entre os quais modestamente me incluo --, quando o governo do país é liderado por um troca-tintas como Netanyahu, acolitado por um indivíduo pouco recomendável chamado Avigdor Lieberman, uma espécie de Le Pen do Médio Oriente (e, repetindo-me, como se deixou Ehud Barak enredar nesta armadilha de pacifismo suspeito?...). Foram escolhidos pelo eleitorado, dir-se-á. Pois foram, mas isso não desculpa o eleitorado. Têm, até, menos desculpa do que os votantes que em Gaza elegeram o Hamas. Convenhamos: uma coisa é ser-se cidadão duma sociedade aberta, como Israel; outra coisa é ser-se um mero peão e carne para canhão dos territórios palestinianos.
Resumindo: em face dos Liebermans e do Netanyahus, creio que não vale muito a pena evocar o passado, a Inquisição, os pogroms e os fornos crematórios. Não são apenas os palestinianos (ou os árabes em geral) que têm de assumir as suas responsabilidades. Os israelitas, também -- e enquanto é tempo.