Não é que eu ande com fixação no tema, mas ele não deixa de ser uma triste evidência para quem se dá ao trabalho de circular. Estava a pescar palavrinhas para o blogue e deparo-me, no livro delirante do Teixeira de Pascoais, com os alegados «defeitos da alma pátria», um dos quais a inveja, é claro. É preciso no diagnóstico (a reacção do nulo diante do valor do outro, distinção que, por contraste, mais realça essa nulidade) e lúgubre na poética: «A Inveja! Nós vêmo-la, nas trevas, farejar: é um esqueleto de hiena visionando um cemitério...»*. A verdade é que há zeros inofensivos e outros que não o são tanto; pelo contrário, bastante mauzinhos, por vezes. A estes, gosto de os chatear.
Ligado à inveja, aparece o despeito. Esta campanha eleitoral, por exemplo, transbordou de despeito. Pequenas misérias humanas a que não nos poupam.
* Arte de Ser Português, 3.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, p. 101.