letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
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Mar 11
publicado por RAA, às 20:37link do post | comentar | ver comentários (2)

publicado por RAA, às 00:55link do post | comentar | ver comentários (4)
«[...] Atravessavam a mãe-do-rio. / E ali era a barriga faminta da cobra, comedora de gente; ali onde findavam o fôlego e a força dos cavalos aflitos. Com um rabejo, a corrente entornou a si o pessoal vivo, enrolou-o em suas rôscas, afundou, afogou e levou. Ainda houve um tumulto de braços, avêssos, homens e cavalgaduras se debatendo. Alguém gritou. Outros gritaram. Lá, acolá, devia haver terríveis cabeças humanas apontando da água, como repolhos de um canteiro, como môscas grudadas no papel-de-cola. A estibordo de Sete-de-Ouros, foi o berro convulso, aspirado, de uma pessoa repelida à tona, ainda pela primeira vez. Mas isso foi bem a uns dez metros, e cada qual cuidava de si.»*
João Guimarães Rosa não é um autor fácil, menos ainda para o leitor português. A minha experiência com ele é Sagarana (1946), uma 7.ª edição maravilhosamente ilustrada por Poty. Eu diria que Rosa é, não um escritor para escritores, mas um escritor para leitores exigentes e persistentes A dificuldade inicial torna-se, progressivamente, em encantamento, e a compensação da leitura é única.

* João Guimarães Rosa, «O burrinho pedrês», Sagarana, 7.ª edição, Rio de Janeiro, livraria José olympio Editora, 1965, pp. 66-67.

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