INSPIRAÇÃO
De qualquer contratempo, dor, desgosto,
Faz Justino um soneto. É já sabido.
Nunca falta o soneto apetecido,
Depois de maltratado ou descomposto.
Ontem, numa questão, lançou em rosto
Uma dúvida, ao Rego; este, ofendido,
Chamou-lhe o que há de sujo e permitido
Nestes casos. Ouviam-no com gosto.
Alguém lhe diz: «Por quem você se rala!
Não faça caso desse tipo; evite-o.»
O Rego ia a servir-se da bengala,
Mas pensou e atirou-lhe, desdenhoso,
Um pontapé ao costumado sítio.
Espera-se um soneto primoroso.
Garcia Monteiro
(ed. Carlos Jorge Pereira)