A arte dos sons, música e palavra, é das mais altas expressões humanas. O fado, música e palavra, foi distinguido pela Unesco como património imaterial da humanidade. Viva!, é bem merecido. Se esta música já se internacionalizara, desde Amália até às experiências de alguns artistas estrangeiros, a partir de agora -- e ainda bem --, o fado deixou de nos pertencer, passando, desejavelmente, a ser alvo das contribuições de todos quantos nele quiserem pegar. Paradoxalmente, esta classificação levará, inevitavelmente, à sua descaracterização, enriquecendo-o. É claro que continuará sempre a existir o fado original, tão do agrado dos puristas, dos etnomusicólogos e de todos os amadores de música. Mas o fado passará a ser ainda mais (porque já o é) a tradição, e outra coisa -- como sucedeu, por exemplo, com os blues e com o jazz. E sendo (também) outra coisa, nele permanecerá a matriz que sempre o identificará.
Deste lado do Atlântico, e do outro também: não apenas a pessoite, mas também a claricite. Normalmente pega-se na adolescência, dá-se bem em gente de poucas letras e caracteriza-se por um estado relativamente prolongado de parvoíce. Em pequenas doses, são benignas (eu, por exemplo, padeço de castrite, doença rara; há quem padeça de saramaguite, de antunite, de helderite); houve, em tempos, quem sofresse de camilite aguda, e até de queirosite, enfermidade que persiste e que já me atacou por mais de uma vez. Como a raiva e a pólio, são patologias debeladas ou sob controlo. A aquilinite foi sempre outra doença rara. Algumas, não tão sintomáticas quanto a pessoite ou a claricite, apresentam-se em estádio intermédio: a eugenite e a torguite, creio que enfrentam alguns antibióticos; a florbelite, após um período de refluxo relativamente prolongado, recrudesce.
Todos os que se lhe aproximam são concordes em afirmar que gera um poder estranho. Dele emana, realmente, nos primeiros anos de triunfo, um fluido ainda desconhecido, perante o qual todas as vontades se fundem, e que o leva de vitória em vitória, fazendo marchar para a morte aos gritos de -- Viva o Imperador! -- a França em peso numa só vontade. E como prende os homens pelos vícios e pelas paixões, é adorado como nenhum outro déspota o foi. Uma figura assim cobre-se de glória, e nem sequer (não tem tempo) escuta os gritos. Os homens para ele não passam de algarismos: quando muito soma-os. A dor alheia é zero. El-Rei Junot