«--O amigo acredita em Deus?» «O taxista de Jesus»
«O rapazinho encostou uma pistola à nuca do ascensorista e ordenou-lhe num fio de voz (estava em pânico), que levasse a máquina até Havana, Cuba.» «A volta ao mundo em elevador»
«A cama era um móvel insensato, com pernas altíssimas, de tal forma que o colchão ficava suspenso a uns dois metros de altura.» «Não há mais lugar de origem»
«Esta é a história verdadeira do meu amigo Fortunato, que numa madrugada de pouca sorte acordou nu no corredor de um grande hotel londrino.» «Porque é tão importante ver as estrelas»
José Eduardo Agualusa, Fronteiras Perdidas (1999), 5.ª edição, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2009.
Na obra de Aquilino Ribeiro vivem os camponeses e os citadinos, os frades maganões e os arrieiros, os mestres de obras e os homens do foro ou da arte de curar, os políticos trocatintas e os jornalistas de nariz no ar a farejar a notícia só pelo prazer de meter a colherada em seara alheia; mas essa obra sólida, viva, duradoira só é possível ter a vida que tem e as formas que lhe deram graças ao lastro de cultura que o seu autor absorveu e foi sempre aumentando, à medida que os anos passavam e as ciências e as letras iam avançando.
Raul Rego, Aquilino Ribeiro, Cadernos F.A.O.J., s.d.
Em 1997 acompanho-o num programa sobre Cascais. Assisto àquela mise-en-scène, a pose para a câmara, o bicho mediático em acção... Indescritível. Falo-lhe no nosso encontro, um quarto de século antes, evocamos o amigo. Deste também breve encontro, recordo-me de duas coisas: o elogio que fez ao livro de Vasco Pulido Valente, O Poder e o Povo, que considerava uma das grandes obras da historiografia portuguesa contemporânea; e o seu pessimismo em face do devir da Humanidade: «Vejo o homem do futuro como um grande estômago e uma grande cabeça, membros superiores desenvolvidos e os inferiores atrofiados, incapaz de se deslocar por meios próprios. Tenho de pedir a um artista para me fazer uma figura assim...»
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conhecia de vista e de chapéu.
Machado de Assis, Dom Casmurro, São Paulo, Abril Cultural, 1978.