Coimbra, 18 de Fevereiro de 1927
Meu caro Simões:
Recebi a sua carta, justamente quando pensava em lhe escrever. Muito lhe agradeço o ter pensado tanto no jornal e em mim que se me antecipou. As notícias são: O Branquinho partiu há 8 dias para Lisboa, de modo que fiquei sozinho em Coimbra a preocupar-me com a saída do primeiro número da Presença. Escrevi a alguns presuntivos colaboradores da dita, e recebi: Versos do António Navarro (de que Você gostará mais que do Soneto da Contemporânea); informação do Mário Saa de me mandar brevemente qualquer coisa; informação do Martins de Carvalho de mandar também brevemente um trecho da sua dissertação; esperanças do meu irmão de também brevemente mandar um desenho com algumas palavras sobre arte. Logo que todos estes «brevemente» sejam «presente» -- o número sairá. Além desta colaboração, o primeiro número terá: Versos do Branquinho, do Bettencourt e do Fausto; prosa sua, do Almada e minha. Como vê, já a dificuldade de encher espaço vai sendo substituída pelo do espaço para conter... No entanto tudo se arranjará, e creio que o primeiro número da «Presença» gritará de facto: Presente! Peço-lhe para mandar o seu artigo logo, mesmo logo, que esteja pronto. Queria escrever-lhe mais, mas escrevo-lhe da Central, e com uma pena de tinta permanente... Quer isto dizer que a tinta me falta a cada palavra que escrevo, porque nunca me afiz a semelhantes viadutos de tinta. Escreva, sim? e, uma pergunta: Quando vem dar uma fugida cá?
Saudades dos amigos, e um abraço do
José Maria dos Reis Pereira
In João Gaspar Simões, José Régio e a História do Movimento da «presença»