é do que mais gosto da poesia de Eugénio de Andrade. Quando nasci, já ele era um poeta célebre; quando tomei consciência da obra poética, já ela acusava um excesso de auto-referência -- «sílaba a sílaba», e outros bordões semelhantes; mas a beleza da sua prosa desde logo me conquistou. Nunca mais me esqueci de uma brevíssima passagem de um texto evocativo de Raul Brandão: «Era um poeta -- às palavras estava condenado»... Conheci-o superficialmente: investido, certa vez, de pouco invejáveis funções de representação, fui mostrar-lhe, e ao afilhado Miguel, toda aquela zona fantástica que vai do Guincho à Biscaia, ainda dentro dos limites de Cascais, pouco antes de alcançarmos o Cabo da Roca. Uma vez parado o carro, e calcorreando aqueles ermos ventosos, fiz os possíveis e os impossíveis para que ele não visse uma quantidade inusitada de cachos de bananas a apodrecer, que um javardo qualquer para ali tinha deitado à socapa, sabe-se lá porquê... Fui bem sucedido, felizmente. Daí a dias, recebíamos um testemunho magnífico, que seria publicado numa das revistas cá da terra. O Abencerragem oferece-se um excerto, um pouco mais abaixo, nas «Figuras de estilo».