Todos os dias bate à minha porta
e aceita a esmola que lhe dou, que é nada!
E lá se vai, rojando na calçada
o passo vacilante, a sombra torta.
É a miséria mesma que o conforta.
Com o sol a prumo ou a chuva regelada,
mendiga sempre, palmilhando a estrada,
vergado ao peso da existência morta.
Hoje, aquecia as minhas mãos ao lume
quando ele veio, como de costume,
fitar em mim o seu olhar vazio.
E ao dar-lhe a esmola que ele não reclama,
mais uma vez senti a face em chama
e as labaredas me fizeram frio.
Última Colheita