letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
04
Out 09
publicado por RAA, às 22:50link do post | comentar
PRIMEIRO CANTO

Dantes, cantei o amor, à luz do dia;
A mística saudade, à luz da lua
Que povoa de espectros a paisagem.

Cantei os anjos e os demónios. Vi
Manar de etérea fonte a madrugada
E vi descer a noite sobre o mundo.

Interroguei a sombra do Marão,
A neblina sonâmbula do Tâmega
E os ermos pinheirais, ao pôr do sol.

Vi, quando era criança, a Primavera.
Passou por mim, num lampo de alegria,
E em mim deixou não sei que imagem triste...

Vi ressurgir os mortos que forçaram
A tampa dos sepulcros, e fiquei
Louco de espanto e doido de terror!

E divaguei na lua, a falar só...
Nas solidões da lua, onde o silêncio
É mais pesado e negro que os rochedos.

Divago no deserto... e vou cantando,
Em fria voz de empedernido som
Que se desfaz em choro, como aquela
Carranca de granito a deitar água.


Cânticos / Antologia Poética
(edição de Francisco da Cunha Leão e Alexandre O'Neill)

Belo!
Ruela a 5 de Outubro de 2009 às 17:12

Lá das brumas do Marão...
Inspire-se, meu caro!
RAA a 5 de Outubro de 2009 às 19:48

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