letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
09
Nov 12
publicado por RAA, às 21:07link do post | comentar | ver comentários (2)

A espera que se está a organizar a Angela Merkel tem este significado: em Portugal há um governo de marionetas. O presidente da República tem sido politicamente irrelevante neste mandato (só não o foi quando se tornou promotor duma jacquerie contra Sócrates, que como se sabe, atentara contra o Estado de Direito e o leite com chocolate). O Parlamento, apesar da captura pelos partidos dos interesses e pelos interesses dos partidos, deu prova de vida, ao suscitar (algum PS+BE) fiscalização do Orçamento pelo Tribunal Constitucional, algo que provavelmente irá repetir-se.

Eu gosto de pensar que a circunstância de pertencermos à UE, onde nunca poderemos deixar de estar enquanto ela existir, nos dá pelo menos a prerrogativa de uma dignidade institucional igual à de qualquer outro estado membro. Não sendo assim (como não está a sê-lo), em vez de nos portarmos como cidadãos alemães, devíamos desviar a manif para a representação da UE em Lisboa; exigir que  Presidente da República justifique o cargo que exerce, sendo a voz (audível) do nosso descontentamento. Quanto ao Governo é cá que devemos tratar dele.


13
Out 12
publicado por RAA, às 15:29link do post | comentar | ver comentários (2)

Tenho visto algumas perplexidades relativamente à atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia. Muitas vezes acompanhadas de imagens eloquentes de cargas policiais ou referentes à situação terrível por que passam os países intervencionados pela troika.

A verdade é que a Academia Norueguesa, ao tomar a decisão, não esteve a pensar em Merkel, Passos Coelho ou Durão Barroso, como é óbvio (como de resto não pensaria em Willy Brandt, Wilfried Martens ou Jacques Delors, nomes muito mais simpáticos).

 

O que o Nobel pretendeu distinguir foi uma ideia, velha ideia, secular ideia de concórdia e paz universal entre os estados. Nunca na história da humanidade se foi tão longe numa integração pacífica entre nações, tantas delas desavindas por centenas de anos de guerra, miséria e morte. É a grande utopia a desenrolar-se diante dos nossos olhos e a decorrer durante as nossas vidas. Como todas as utopias terá, tem, efeitos perversos -- muito menos, incomparavelmente menos, porém, que todas as utopias que foram postas em prática ao longo dos tempos  -- desde logo a utopia comunista bolchevique, ainda bem fresca na nossa memória, rapidamente transformada na distopia do gulag, no universo concentracionário do 1984, de Orwell...

 

Quando os noruegueses (que nem sequer integram a UE) vêm distinguir com o prestígio do Nobel uma ideia, um projecto, uma utopia, num momento em que ela passa por grandes dificuldades -- talvez a maior crise da sua curta história --, esta foi sem dúvida a melhor altura para o fazer, apanhando toda a gente desprevenida. O que eles demonstraram ao mundo foi, enfim, a sua lucidez, a sua sabedoria.


19
Jan 12
publicado por RAA, às 19:31link do post | comentar | ver comentários (2)

     As nossas sociedades estão sob um violento ataque do capitalismo argentário, sem escrúpulos nem rosto. A única resposta séria é política -- que não se verificou por vários motivos, entre os quais a fraqueza das lideranças europeias (Merkel, Sarkozy, Berlusconi, por razões diferentes) e os interesses divergentes do país de Cameron, a outra grande potência da UE.

 

     Neste contexto, em que os países periféricos (ou não) procuraram passar por esta crise como por entre os pingos da chuva, abdicando de se concertarem, ganhando algum músculo político, remetendo-se a um isolamento receoso do contágio da lepra grega -- neste contexto Portugal não risca nada, é irrelevante.

 

     Bem podemos nós vociferar e ir para a rua -- e devemos fazê-lo, apesar de tudo -- que o governo, acolitado por boa parte do PS, toma as medidas que lhe dá na gana. E não é uma greve geral realizada em mês de subsídio de Natal que o vai demover, tanto mais, que o PC e o BE tiveram uma votação residual, e as ordeiras e «enquadradas» manifs do PC e da Inter não assustam ninguém. Logo, no nosso isolamento europeu e na fraqueza  da esquerda contestatária, estamos nas mãos dos interesses financeiros, interpretados domesticamente por um alienígena leve e fresco como o ministro da Economia ou por um contabilista de cálculo indiferenciado como o ministro das Finanças.

 

     A decisão, difícil, da UGT, do tipo vão-se os anéis mas fiquem os dedos, talvez tenha sido, apesar de tudo, a menos prejudicial para quem trabalha. Concedo que a CGTP não poderia nunca ter assinado aquele acordo, mas como daí não retirará as ilações que se imporiam -- contestação a sério na rua, como o fizeram os gregos (sem resultados, na sua solidão, reconheça-se...), o mais que tem a fazer é: ou vir a terreiro, levantar barricadas e passar ao ataque -- ou, na sua impotência,  não vir com o insultozinho fácil e miserável a João Proença, que teve mais dignidade naquela assinatura do que alguns sindicalistas profissionais cheios de garganta -- e só garganta -- que ontem se passearam até São Bento.


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