«Sem honorários fixos, mal retribuídos os trabalhos avulsos, tínhamos de escrever por mês, para vivermos, dezenas e dezenas, mais, muito mais duma centena de artigos, novelas, contos e crónicas, que publicávamos em numerosíssimas revistas e jornais de Lisboa, ilhas, colónias e Brasil.» (O Livro do Repórter X, Lx., 1936)
Ao mesmo tempo ia editando uma série de títulos que viria a eliminar da sua tábua bibliográfica, por terem deixado de representar a sua maneira de se exprimir. Mas... (1921), Carne Faminta (1922), O Êxito Fácil, Sangue Negro (1923), A Boca da Esfinge (com Eduardo Frias, 1924), A Morte Redimida, Sendas de Lirismo e de Amor (1925), A Epopeia do Trabalho, O Drama da Sombra, A Peregrina do Mundo Novo (1926), A Casa dos Móveis Dourados e O Voo nas Trevas (1927) são os livros desta primeira fase, hoje só encontráveis em alfarrabistas, com raridade.
Estes livros reflectiam, por um lado a contemporaneidade conturbada da década, os anos da velocidade, a idade do jazz-band, como lhe chamou António Ferro, outro dos seus grandes amigos de então, um frisson magazinesco que corria em paralelo com temas que hoje classificaríamos como «fracturantes»: feminismo, racismo, eutanásia... Por outro lado, assistimos a uma motivação ideológica que se manifesta principalmente em jornais como A Batalha e revistas como Renovação, ambos da central sindical anarco-sindicalista CGT.
Esta tensão virá a desembocar no final da década (1928) no romance Emigrantes, em que o autor pretende dar voz aos que não têm voz, historiar aqueles que não têm lugar nas crónicas oficiais. Daí o nome colectivo do romance e da personagem principal,Manuel da Bouça, uma personagem arquetípica. No prefácio da 4ª edição escreverá:
«Biógrafos que somos das personagens que não têm lugar no Mundo, imprimimos neste livro despretensiosa história de homens que, sujeitos a todas as vicissitudes provenientes da sua própria condição, transitam de uma banda a outra dos oceanos, na mira de poderem também, um dia, saborear aqueles frutos de oiro que outros homens, muitas vezes sem esforço de maior, colhem às mãos cheias.» [Emigrantes, 24ªed., Lx, pp. 14-15.]
(continua)