letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
13
Ago 12
publicado por RAA, às 03:11link do post | comentar
As cartas, são do Camilo
O título, magnífico, e a apresentação (não o é menos), de Vasco Graça Moura
Os desenhos, de Alberto Péssimo
O grafismo, de Armando Alves
O responsável, príncipe da edição, José da Cruz Santos

24
Nov 11
publicado por RAA, às 01:19link do post | comentar

     Deste lado do Atlântico, e do outro também: não apenas a pessoite, mas também a claricite. Normalmente pega-se na adolescência, dá-se bem em gente de poucas letras e caracteriza-se por um estado relativamente prolongado de parvoíce. Em pequenas doses, são benignas (eu, por exemplo, padeço de castrite, doença rara; há quem padeça de saramaguite, de antunite, de helderite); houve, em tempos, quem sofresse de camilite aguda, e até de queirosite, enfermidade que persiste e que já me atacou por mais de uma vez. Como a raiva e a pólio, são patologias debeladas ou sob controlo. A aquilinite foi sempre outra doença rara. Algumas, não tão sintomáticas quanto a pessoite ou a claricite, apresentam-se em estádio intermédio: a eugenite e a torguite, creio que enfrentam alguns antibióticos; a florbelite, após um período de refluxo relativamente prolongado, recrudesce.

     


17
Dez 06
publicado por RAA, às 19:02link do post | comentar | ver comentários (4)
Quando há pouco mais de duas décadas me cruzei pela primeira vez com Fernando Lopes-Graça, no Teatro Gil Vicente, em Cascais, num comício de apoio à candidatura de Salgado Zenha à Presidência da República, estava longe de imaginar que viríamos a ter um breve, mas intenso, relacionamento, poucos meses antes da sua morte.
O compositor havia decidido legar o seu riquíssimo espólio ao município de Cascais, onde vivia, destinado à Casa Verdades de Faria (hoje, Museu da Música Portuguesa), onde já se encontravam a magnífica colecção de instrumentos do seu velho amigo e colaborador Michel Giacometti, entretanto falecido, bem como a sua biblioteca especializada. Por razões profissionais, fiz parte da equipa que concretizou o desejo do autor do Canto de Amor e de Morte.
Encontrei-me com ele na Primavera de 1994, no «Marégrafo», onde almoçámos. Lopes-Graça era, para mim, a figura mítica do criador, popularizado pelas Heróicas, mas também do esteta, do teorizador e um nobre exemplo de resistente à ditadura salazarista. Dirigi-lhe a palavra com alguma emoção. Para facilitar o diálogo entre dois estranhos, levei-lhe uma fotografia da década de 50, onde ele aparecia conversando com Ferreira de Castro e Roberto Nobre.
A simpatia mútua surgiu de pronto, e naquele almoço muito se falou de literatura (Graça era um grande escritor, embora nunca assumisse essa condição) e gerações intelectuais de que ele era um dos últimos representantes. Homem da presença e da Seara Nova, fizera a ponte com o neo-realismo, pontificando n'O Diabo e na revista Vértice.
Entre mil-e-uma estórias que alimentaram o prândio -- enquanto cravava os cigarros que lhe estavam proibidos pelo médico e que sistematicamente partia ao meio, para prolongar um prazer que satisfazia como um adolescente que fumasse às escondidas -- , falámos obviamente de Ferreira de Castro e Roberto Nobre -- com quem escrevera um artigo para a Seara, sobre o filme Fantasia (1940), uma das obras-primas de Walt Disney --, de Manuel da Fonseca e José Blanc de Portugal; disse-me que estava a reler o Levantado do Chão, de José Saramago; passámos pelo 25 de Abril, por Picasso, por Stravinsky -- tanta coisa que a minha meória não pôde reter tudo.
Semanas mais tarde, quando visitou a Casa Verdades de Faria, no Monte Estoril, voltámos a falar animadamente dos seus companheiros de geração e dos intemporais confrades que com ele partilharam o destino da escrita -- porque, não o esqueçamos, Lopes-Graça cultivou superiormente a prosa, sendo um notável ensaísta.
Lembro-me de dizer-lhe como lamentava o esquecimento a que estava votado Tomás Ribeiro Colaço -- então uma recente descoberta minha --, monárquico liberal, escritor exilado no Brasil onde veio a morrer, apátrida do Portugal de Salazar, director, nos anos 30, de um importante semanário literário, o Fradique. Daí pulámos para o Eça, pois para além da evocação jornalística do semi-heterónimo Carlos Fradique Mendes, parecia-me haver uma nítida influência do romancista d'Os Maias em Colaço, desde logo por uma implacável ironia de que ambos se serviram. Graça veio, evidentemente, defender a superioridade de Camilo sobre Eça, e também, já no seu século XX, de Aquilino. O mesmo já se não passou com Fialho, para minha surpresa; pareceu-me que o detestava.
Estive na sua casa da Parede pelo menos duas vezes. Senti-me extasiado diante das suas estantes a abarrotar, reveladoras também de um fino gosto bibliófilo. Senti que lhe agradou a avidez com que me lancei aos livros dos escritores portugueses, quase todos com dedicatórias -- e, alguns deles, com que dedicatórias! «Aí estão os autores portugueses», disse-me com aquela entoação das pessoas que não só lêem os livros, como gostam de os ter junto de si, mirara-lhes de longe as lombadas, ir ao pormenor do cólofon.
E lá estavam, copiosos, os volumes de Aquilino, Ferreira de Castro, José Gomes Ferreira, José Régio, Vergílio Ferreira, Carlos de Oliveira, a primeira edição de Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, na editora Sírius, com capa de Álvaro Cunhal...
«O maestro tem aqui preciosidades!...», disse-lhe com evidente entusiasmo. «Ora diga lá, do que aí está, o que acha interessante», retorquiu ele, claramente para experimentar o rapaz com idade para ser seu neto e que lhe invadia em casa para, no cimo de um escadote, remexer as suas estantes, e que, ainda por cima, tinha opiniões sobre escritores que haviam sido seus amigos, privado com ele, trabalhado com ele. «Vá, diga lá a que escritores, dos que aí estão, acha o senhor interesse», insistiu. Aquele senhor, sem uma ponta de hostilidade, mas irónico -- pelo menos assim o senti --, punha-me claramente à prova. «Bem...», hesitei no meio de tantas possibilidades, e decidi jogar logo pelo seguro, «...o Carlos de Oliveira, por exemplo...» E lá começámos à conversa, gostosa e demoradamente.
Inesquecível uma tarde em que o rádio, sintonizado evidentemente na Antena 2, transmitia o Concerto para violoncelo de Dvorak, gravado não sei quando no Coliseu e dirigido por Pedro de Freitas Branco, Lopes-Graça sentado tendo à frente o seu Bechstein, por vezes a trautear uma passagem, e eu a folhear-lhe as prateleiras...
Muitas foram as estórias que ele me contou, por vezes repetiam-se, mas era sempre um prazer ouvi-lo. Episódios do seu exílio em Paris, nos anos 30, os contactos que tivera com Bernardino Machado («um picuinhas a rever textos») e Jaime Cortesão, que considerava ser um pedante, embora não lhe quisesse apoucar a grandeza. E saltávamos de nome em nome: Vitorino Nemésio, grande amigo com quem se incompatibilizou depois da Revolução, Jorge de Sena, homem com «um feitio terrível», mas «um homem superior».
Morreu umas semanas depois. O pouco que privei com ele não chegou para me fazer sentir seu amigo. Consegui admirá-lo pessoalmente, mesmo já diminuído. Comoveu-me a sua ostensiva militância comunista, que a todo o momento procurava vincar, sabendo eu que esse não fora um percurso sem escolhos. Enquanto vulgaríssimo melómano -- gosto de alguma da sua música, não aprecio outra. Quase que por acaso, quase, revejo estas notas tomadas num caderninho, em 5 de Janeiro de 1995, ao som da sua música. Escolhi o Concertino para Violeta e Orquestra, de 1962, incluído no primeiro disco de Lopes-Graça que comprei, e que para sempre evocará o meu encontro com ele, à beira do fim.
Foto de Augusto Cabrita

16
Dez 06
publicado por RAA, às 16:01link do post | comentar












Caricatura de Vasco


publicado por RAA, às 15:59link do post | comentar
Meu CaroThomaz Ribeiro.
Tomára eu ca os outros volumes das tuas Jornadas. Anceio o que hade ser todo da India, porque os realces originaes hão de avantajal-o aos que fallarem da tão viajada e decrepita Europa. A simplicid.e do teu estylo dá meritos a este livro, que o tornam estimabilissimo. Sem questão, tu és poeta de primeira ordem, e prosador de segunda. Em quanto a musa te apojar bobotoens, torrentes de inspiração, não desças á prosa ignobil. Cede-a aos aleijadinhos do metro. Flores, flores, meu caro Thomaz Ribeiro. Não ha quem atire mais jardins do que tu para cima destas charnecas.
Abraça-te o teu velho e paralytico am.º
C. Castello Branco
Porto 1 de Dzbr.º de 1873.
Cartas de Camilo Castelo Branco a Tomás Ribeiro
(edição de Branca de Gonta Colaço)

03
Jun 06
publicado por RAA, às 21:01link do post | comentar

publicado por RAA, às 20:59link do post | comentar | ver comentários (3)
[1887]

Meu prezado João de Deus

Nas onze dúzias de livros que fabriquei, não há uma elegia. As minhas elegias são tristezas incomunicáveis.
Lida a sua estimada carta, escrevi isso que remeto. Consulte T. Braga. Fomos inveterados inimigos em letras. Que não vá a minha intervenção na sua dor causar-lhe desgosto. Aqui estou quási cego, paralytico; ao lado de um filho querido e mentecapto que já tentou matar-me. Haverá grandes desgraçados, que comparados comigo, se considerem quási felizes.
Abraça-o o seu velho amigo
C. CASTELLO BRANCO
In Moreira das Neves, Camilo Tal Qual

26
Abr 06
publicado por RAA, às 22:43link do post | comentar | ver comentários (2)














Que Camilo, o deste Tòssan!

29
Dez 05
publicado por RAA, às 22:58link do post | comentar
Oh céus, onde estão os vossos raios que não caem sobre a cabeça deste infame, que pede a uma amante que mate sua mãe, para mais a salvamento gozar os seus escandalosos e torpes desejos! Oh céus! como quereis que um homem vos insulte tão claramente, atrevendo-se a proferir estas palavras: ó filha mata tua mãe!... Meu Deus, eu sou um fraco bichinho na terra, e atrevo-me a interrogar a vossa alta sabedoria! Perdoai-me, meu Deus!
Maria! Não me Mates que Mates que Sou Tua Mãe!

publicado por RAA, às 22:57link do post | comentar | ver comentários (5)



















Era porreiro ter na algibeira uma nota de 100 paus.

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