O Canto Gregoriano é do centro-oeste europeu, acolhedor densamente povoado, a divindade próxima; o da Igreja Ortodoxa russa tem outra intensidade, outro desespero -- deus inacessível para lá das estepes.
A arte dos sons, música e palavra, é das mais altas expressões humanas. O fado, música e palavra, foi distinguido pela Unesco como património imaterial da humanidade. Viva!, é bem merecido. Se esta música já se internacionalizara, desde Amália até às experiências de alguns artistas estrangeiros, a partir de agora -- e ainda bem --, o fado deixou de nos pertencer, passando, desejavelmente, a ser alvo das contribuições de todos quantos nele quiserem pegar. Paradoxalmente, esta classificação levará, inevitavelmente, à sua descaracterização, enriquecendo-o. É claro que continuará sempre a existir o fado original, tão do agrado dos puristas, dos etnomusicólogos e de todos os amadores de música. Mas o fado passará a ser ainda mais (porque já o é) a tradição, e outra coisa -- como sucedeu, por exemplo, com os blues e com o jazz. E sendo (também) outra coisa, nele permanecerá a matriz que sempre o identificará.