letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
13
Mar 11
publicado por RAA, às 17:38link do post | comentar
5 poemas, aqui.

16
Dez 06
publicado por RAA, às 02:41link do post | comentar
Nas costas de Spínola, cerraram o portão do quartel. Os minutos correram nervosos. E já, novamente, o mesmo portão se abre: vê-se agora, no túnel, o Marcelo, prisioneiro, entrar no carro de combate. Ouvem-se vaias, maldições. Chovem cuspidelas para a carapaça do blindado que rompe por entre a multidão. No interior do veículo, o Marcelo vai verde, leva o rosto destruído, vê-se-lhe nos olhos que não entende ainda o que acontece agora-agora e já é página da História; o ditador mostra uma carantonha siderada de um verde eterno, como as fardas da sua apalhaçada Mocidade Portuguesa.
A Minha Quinta-Feira 25 de Abril

publicado por RAA, às 02:40link do post | comentar


29
Set 06
publicado por RAA, às 23:59link do post | comentar
LIBERTATE

"Sinto-me um cientista a quem um admirador
remeteu uma carta que dizia: concordo consigo:
dois mais dois são cinco."
(Bertolt Brecht)

"Se não esperas o inesperado, nunca o alcançarás."
(Heraclito)

"Faço sempre outra coisa."
(o Autor, in "Museu das Formigas", 1980)


Para lá de todas as estradas de pó
percorridas pelo carro velho a caminho de
Montana onde os pistoleiros sempre estiveram escondidos
-- os dois jovens que fomos (eu e tu, Rebecca)
estavam à solta em todas as pradarias. Ao tempo,
Portugal fora fechado dentro de um dedo a corroer-se,
poço de vespas perversas.
Passámos por Indiana e os beijos não estavam doentes,
e em Chicago havia pistolas nos olhos de quem sorria.
Tive a liberdade de dançar contigo
o tango dos últimos bêbedos. Bêbedos cultos
apaixonados por licores ou vinhos desastrados quase música.
Em Pierre, conhecemos um jovem anoitecido por sustos
que era mestre a deitar fogo a bares.
Então soubemos d'outros que fugiam para o pé do mar
vinham montados num automóvel em pedaços
eram perseguidos por uma mentira redonda e
perfeita: os dois vão ser presos mas esfumam-se
porque o seu sangue é bom e ninguém sabe:
escondem-se assim para os lados das ondas e das ostras
procuram a salsugem -- o mar! E depois num povoado
perdido na noite, casas sem nome, descobrimos
a mãe da América fumava papoilas.
Não me lembro das tuas últimas lágrimas, mas
sei que choravas por um coração esvaziado por granadas.
O teu filho caíra na Ásia e não viera mais
-- desaparecera para sempre numa guerra errada.
Traiçoeiro como sempre esqueci (por momentos) Rebecca
e fui caçar outros olhos.
Por três tardes, luziu Herbie: passeava pelo seu corpo
eu atravessava-o como quem passeia pelas páginas de Balzac
como se as cidades bucólicas estivessem sitiadas.
E voltaram as labaredas altas a lamber os campos
regressei aos gestos fogosos de Rebecca
que ajudava as plantas a crescer,
não tinha medo delas. Faltava pouco para chegarmos
a Helena, onde os amigos tinham bons livros
à nossa espera. O ruído da seda a rasgar-se,
o jogo das pessoas brincadas, o ruído da água
o barulho sinistro que vem das chamas.
Era no chão o vestígio dos venenos.
Um Beethoven adulado por coiotes.
E os beijos à volta, os sôfregos beijos latinos
a crescerem: do pó em fúria até ao musgo.
Sempre tive um vinho muito ciumento.

Sempre Tive um Vinho Muito Ciumento

21
Mai 06
publicado por RAA, às 17:59link do post | comentar
Havia no ar um prazer de livro lido
Fernando Grade

11
Set 05
publicado por RAA, às 15:25link do post | comentar | ver comentários (2)
OLÍMPICOS

(Ouvindo «A Tempestade», de van Beethoven)


Lá vão os sonhos nos braços do vento
lá vai o campeão a haver do mar das velas.

Dizem-me O moço vai ganhar
que (neste caso) aquele povo ali ao fundo da escada
quer sentir-se herói outra vez
e através do campeão à vela e ao mar.

Contudo
as brisas perversas têm a sua longa ronha
as velas de salsugem não duram sempre
têm a idade marcada na pele
assim como os músculos e o cheiro dos pêssegos
tal-qual o sangue bom que conseguiu voar
e um dia volta a ser toupeira.

O pano ruiu
abre-se uma fenda do tamanho de
um coração a arder
e o campeão que estava para ser
evaporou-se
e com ele morreram as quimeras
de muitos que só tinham esse caminho inventado
para morder os seios à Primavera.

Philosophus per Ignem

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