letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
09
Abr 06
publicado por RAA, às 16:33link do post | comentar | ver comentários (4)
Paris
Meu querido amigo:
Aqui cheguei depois de uma passagem na Bélgica verdadeiramente arrasadora -- mas consoladora. Estava eu habituado, no estrangeiro, a ver o meu país tratado sempre em «quantité négligeable» e a minha qualidade de português olhada com uma vaga ironia com que se olha para os siameses ou para os malgaches.
E tive agora a grande sensação de orgulho ao ouvir o nome de Portugal tratado com carinho e de ver o representante do seu governo respeitado, acolhido com simpatia: neste momento acabo de receber um telegrama da rainha da Bélgica, assinado «Elisabeth» simplesmente, antiprotocolar mas encantador, revelando, sob um pretexto banal, a maior simpatia e consideração pelo país.
Meu querido amigo: se não fosse a sua admirável actuação, o país não teria nunca chegado a esta altura. Não resisto a mandar-lhe daqui a expressão do meu entusiasmo pela sua obra e do meu comovido agradecimento. Todas as grandes homenagens de que vi cercado o meu país -- foi V. Ex.ª que as ganhou e mereceu. A minha acção pessoal ante grande triunfo foi pequena: e nenhum efeito teria se os anos de administração e trabalho que V. Ex.ª tem desenvolvido não existissem. É isto que eu não posso esquecer.
Hoje o marechal Lyautey oferece, em sua casa, um chá particular para nos apresentar aos seus amigos. Isto é significtaivo: ao fazer o convite disse-me: só para si e sua mulher, porque eu quero marcar bem, além da minha amizade pessoal, a minha grande simpatia pelo seu governo; por isso não quero a comitiva.
Amanhã, presido, com o marechal, a uma conferência de João de Almeida, na Sociedade de Geografia. Pensei que era interessante ficar estes dois dias ainda para estes efeitos, embora as autorizações de viagem se tenham acabado já. Mas isso é assunto que terá de ser regularizado depois.
Não posso contar-lhe aqui miudamente tudo o que aconteceu na Bélgica -- onde foram feitas declarações cheias de interesse para o país mas onde eu não passei de fórmulas banais de amizade -- mas verá que realmente os efeitos da sua política chegaram longe, quando lho contar. O ministro das Colónias belgas, no banquete oficial, levantou o seu copo pelo meu eminente Presidente do Conselho -- le Doctor Salazar.
Enfim -- pessoalmente estou arrasado e arruinado. Tenho de sofrer uma intervenção cirúrgica quando aí chegar -- já a devia ter sofrido, mas não tenho tido um minuto e isto exige três dias de cama, apesar de não ter importância. Mas tem-me feito passar maus bocados.
Um grande e afectuoso abraço, com todos os agradecimentos e homenagens do
Armindo Monteiro
Correspondência Política -- 1926-1955
(edição de Fernando Rosas, Júlia Leitão de Barros e Pedro de Oliveira)

23
Jan 06
publicado por RAA, às 19:30link do post | comentar | ver comentários (2)


Acabou-se. Manuel Alegre não foi eleito. Mobilizou mais de um milhão de eleitores, por razões várias. Quanto a mim, votei num homem com um passado honroso e num cidadão que soube estar nos momentos essenciais do lado certo da História. E votei no escritor. A meu ver, Manuel Alegre poderá continuar a prestar bons serviços ao país na acção política, no PS e na Assembleia da República, sabendo fazer valer o peso granjeado nesta eleição. Portugal também precisa dele, não em movimentos residuais de protesto, mas no centro do poder.
Uma palavra para o presidente eleito, Aníbal Cavaco Silva, referindo o bom discurso de vitória que proferiu no CCB, dirigindo-se à imprensa e, por seu intermédio, aos portugueses. Uma intervenção limpa, sem adversativas, lembrando os estrangeiros que cá vivem e os portugueses mais desfavorecidos, falando na liberdade, sem precisar de fazê-lo, mas dando com ela outra forma à sua proclamação vitoriosa. Gostei. Espero que lhe, e nos, seja auspicioso.
Uma notícula para os comentadeiros de serviço, para os pivôs e plumitivos agenciados: sem ilusões quanto à sua desvergonha, conformo-me com vê-los pululando, sempre disponíveis e de boca aberta à espera que lhes atirem amendoins...
Outra notícula para vomitar na dita extrema-esquerda (não falo na desdita extrema-direita, que está cadaverosa): os Louçãs, os Tomés, os Rosas, os Vales de Almeida, as Dragos, mais os aliados do candidato a Américo Thomaz, que na sua insignificância política não hesitaram em insultar alguém cujo passado de resistente deveria merecer alguma estima e talvez solenidade, pelo menos a essa confraria beata que quando fala em esquerda, fá-lo com a voz cava...

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