FEIA
Não te amei. E porquê? Porque não há em ti
A graça que perturba, o sorriso que enleia:
Porque eu sou cego, filha, e porque tu és feia;
Porque te olhei, amor, e porque não te vi.
Foste minha e -- vê lá! -- nunca te conheci.
A tua alma, tão bela e tão nobre, -- ignorei-a.
Quis beleza, frescura, -- e contruí na areia:
Só comecei a amar-te, hoje, que te perdi.
Amor espiritual, amor sem esperança,
Amor que não deseja e, por isso, não cansa,
Amor contrito e puro, arrependido e triste...
Hoje estou convencido, ó minha gloriosa:
A paixão sem beleza é a mais perigosa;
O amor por uma feia é o maior que existe.
Sonetos