letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
04
Set 11
publicado por RAA, às 02:51link do post | comentar
5 poemas, aqui.

16
Jun 06
publicado por RAA, às 22:33link do post | comentar
RENÚNCIA

Esta é a hora de renunciar...
Antes que venham mais desilusões,
Ensina o teu orgulho a desprezar
Sonhos inúteis e banais paixões.

Beijos que deste -- ensinam-te a chorar...
Alma em que viste ocultas perfeições
Soube apenas mentir ou duvidar:
Nunca entendeu as tuas ambições!

Esquece tudo, esquece e renuncia!
-- Maior do que essa, fora a covardia
De viver de um amor desiludido.

Ah! desejar o encanto das estrelas!...
-- Tão longe estão que a gente, só de vê-las,
Quase imagina tê-las possuído!

Humilde Plenitude

29
Jan 06
publicado por RAA, às 19:16link do post | comentar | ver comentários (4)
Lisboa, 2 de Janeiro de 1900
Caro Poeta
Ha já alguns dias que recebi o seu primeiro livro de poesias -- Algas -- tendo é certo lido logo e immediatamente. Leio sempre com curiosidades diversas as composições poéticas que me cáem debaixo dos olhos; quando não acho conhecimento de fórma, appéllo para a originalidade ou novidade da idéa; quando falha qualquer d'estes aspectos procuro ainda descobrir o temperamento ou organização do Poeta, que às vezes póde estar abafado pelas correntes batidas de um gosto dominante que o prejudique.
Só no fim d'este inquerito é que deixo o livro ou a composição poetica. O seu livro das Algas tambem passou por este crivo; ha alli conhecimento das fórmas, e ha temperamento poetico; e é muito, e por isso que promette largas esperanças é que não é já tudo. Para ir mais longe é questão da edade, que lhe hade dar o contacto da realidade da vida, e de uma philosophia que dê ao seu espirito a visão universal.
Felicita-o com um abraço o seu
admirador e am.º At.º
Theophilo Braga
T. S. Gertrudes, nº. 70.
Cartas a João de Barros
(edição de Manuela de Azevedo)

07
Jan 06
publicado por RAA, às 16:21link do post | comentar
Ex.mo Sr. João de Barros:
Um número da sua revista, que me chega agora à mão, veio bruscamente lembrar-me que lhe sou devedor de tanta coisa prometida! e devedor que se está comportando dum modo bem singular.
Peço-lhe que me creia: eu não tive o mais leve intuito em desconsiderá-lo com o meu silêncio e nem sequer tive o intuito a furtar-me a pagar-lhe o que lhe prometi e devo. Isto em mim agora não é alijar uma responsabilidade de mau pagador: é a verdade. Se me conhecesse intimamente estou certo que V. Exª. não só explicaria e perdoaria o meu silêncio amigo (numa significação bem diferente duma cursilería que para aí se chama amizade). Todos nós temos, dormitando no fundo do nosso ser, o nosso demónio (até Antero e Sócrates, que foram integrais como deuses, tinham cada um o seu) a que a psiquiatria de agora chama insultuosamente neurastenia, nevrose, psicastenia... -- e que sei eu? Quando um demónio desperta e reivindica os seus direitos ferocíssimos (ferocíssimos para o nosso pobre ser que tem de sofrê-los) nós esquecemo-nos de tudo -- até de pagar o que devemos. Exponho-lhe estas coisas íntimas e lastimosas, porque estou certo de que me dirijo a um espírito capaz de as compreeender. Doutro modo, se, em vez de tratar de si, se tratasse duma criatura vulgar como a abjecção da vida, creia: eu prolongaria indefinidamente o meu silêncio... -- et je m'en foutrais.
Eu desejava dizer-lhe muitas coisas sobre a sua magnífica plaquette dramática (dramática, não; lírica, bela e intensamente lírica); mas teria de ser longo e maçador. Sendo-lhe a si (devendo ser-lhe!) demais a mais indiferente a minha opinião sobre o valor artístico dela. De resto, uma opinião, boa ou má, seja de quem for, sobre uma obra de arte, não a desnivelará uma linha sequer do lugar justo que o seu valor real lhe marcou. Ninguém, nem Deus (refiro-me a Deus num sentido metafórico!), seria capaz de anular um átomo ao valor da obra shakespeariana, ou de pôr um átomo de génio nos medíocres furtos do Sr. J. D. Uma obra é o que é -- diga-se dela o que se disser. A crítica é apenas um comentário que traduz uma impressão ou uma análise: pode explicar a obra de arte, mas nunca validá-la ou invalidá-la. Nestes termos, a crítica, para o autor da obra de arte, não é lisonjeira, nem agressiva: é indiferente (deve sê-lo!). Por isso não estou a massacrá-lo com a minha admiração.
E quando solverei eu a grande dívida de enviar-lhe o artigo prometido?
Quando o meu demónio deixar.
Espinho, 12 de Março de 1905.
Criado sem préstimo
M.to Ob.do e Admirador
Manuel Laranjeira
Cartas
(edição de Ramiro Mourão)

publicado por RAA, às 16:20link do post | comentar

24
Set 05
publicado por RAA, às 15:04link do post | comentar | ver comentários (5)
SONETO DE AMOR

Tantos passaram pelo teu caminho
Antes que fosse a hora de eu passar
Que tenho a dor de me não ver sozinho
Na memória fiel do teu olhar.

Nenhum te disse frases de carinho,
Nenhum parou, talvez, para te amar...
E vão perdidos no redemoinho
Da Vida e nunca mais hão-de voltar.

Para ti, nenhum foi o mesmo que eu...
-- Mas porque a tua vista os abrangeu
Mesmo sem alegria, amor ou fé,

Deles alguma cousa em ti existe
-- Alguma cousa que me deixa triste
Porque não posso adivinhar o que é!...

Ansiedade / Vida Vitoriosa

publicado por RAA, às 15:03link do post | comentar
Posted by Picasa Biblioteca Nacional

publicado por RAA, às 15:02link do post | comentar
Desenho de João Abel Manta

14
Ago 05
publicado por RAA, às 16:17link do post | comentar
A PRIMEIRA BISNETA

Para o futuro neto da Teresa e do Marcello.
Na noite de Natal de 1956.
Tal o menino Jesus
os meninos nascem nus...
Mas Aquele não tem frio,
vem lá do céu direitinho,
e no céu tudo é quentinho.
Os outros, quanto arrepio
no seu corpinho macio!
Então a Avó, com afã,
para evitar-lhe percalços,
por causa dos pés descalços,
corre a buscar sapatinhos
de boa lã
(boa lã da Covilhã)
que os pezinhos aconchega...
Nenhum inverno lhes chega!
-- Oferta de puro amor
que é sempre o melhor calor.
Últimos Versos

24
Abr 05
publicado por RAA, às 16:33link do post | comentar
TODOS OS BEIJOS...

Todos os beijos da volúpia, os beijos
Da boca sempre inquieta por beijar-te;
E os beijos da minh'alma, sem desejos
Que não sejam, de longe, acarinhar-te...

E os beijos que são longos, como harpejos
Em que fala o meu sonho e a minha arte,
E os beijos em que o sangue tem lampejos
De ciúme e de febre a alucinar-te...

E os beijos desta angústia, em que procuro
Prender nas minhas mãos o teu futuro,
Saber o anseio dos teus olhos tristes...

E ainda os beijos novos que eu não dera,
Os beijos que eu não dava à tua espera
--E que são teus, Amor que não existes!...

Ritmo de Exaltação

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