letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
01
Nov 12
publicado por RAA, às 02:08link do post | comentar | ver comentários (2)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 OJL de hoje (ontem) vale os 560$00 que custa -- o que nem sempre sucede, naturalmente, mas é bom quando assim é.

Várias páginas sobre Manuel António Pina, o poeta, o ficcionista, o enorme cronista que envolvia um quotidiano pouco amável na ironia fina da sua análise e na generosidade da sua cultura. Naquele registo diário, espartano de meia-dúzia de caracteres, ao mesmo nível, pesem as diferenças, só me lembro do Victor Cunha Rego.

E o mais que me vai apetecer ler: as entrevistas a Mário Zambujal, Eurico Carrapatoso, Ana Moura e Pe. Carreira das Neves. As crónicas de Guilherme Oliveira Martins e Helder Macedo; livros & discos; e, cereja, um registo diarístico de Maria Teresa Horta.

Coincidência, o meu nome também por lá desaparece, no colóquio sobre o Jorge Amado: chamam-me Ricardo Antunes Alves. Já me chamaram António Alves, que são o meu pai ou o meu filho. Antunes, nunca me tinha acontecido.

 

em tempo: e a coluna do brilhantíssimo Viriato Soromenho Marques.


20
Out 12
publicado por RAA, às 03:03link do post | comentar
Reli-o há pouco, e soube-me tão bem.
«O mar é instável. Como ele é a vida dos homen dos saveiros. Qual deles já teve um fim de vida igual ao dos homens da terra que acarinham netos e reúnem as famílias nos almoços e jantares? Nenhum deles anda com esse passo firme dos homens de terra. Cada qual tem alguma coisa no fundo do mar: um filho, um irmão, um braço, um saveiro que virou, uma vela que o vento da tempestade despedaçou. Mas também qual deles não sabe cantar essas canções de amor nas noites do cais? Qual deles não sabe amar com violência e doçura? Porque toda a vez que cantam e que amam, bem pode ser a última. Quando se despedem das mulheres não dão rápidos beijos, como os homens da terra que vão para os seus negócios. Dão adeuses longos, mão que acenam, como que ainda chamando.»

Jorge Amado, Mar Morto (1936)
capa: José Ruy

27
Set 12
publicado por RAA, às 13:38link do post | comentar

Dir-se-ia um divertimento, não fora seriíssima a literatura de Jorge Amado. «A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água», conto que abre o volume e «A Completa Verdade Sobre as Discutidas Aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo Curso». Do vagabundo Quincas, aliás Joaquim Soares da ?, funcionário exemplar e respeitado chefe de família que um dia resolve libertar-se da opressão familiar exercida por mulher e filha, acoplada por genro carreirista e idiota -- de Quincas Berro d'Água a Seu Aragãozinho, rico comerciante sem outra distinção que não a do dinheiro, faltando-lhe título académico ou patente militar que o equiparasse aos companheiros de estúrdia, até conseguir desencantá-lo, legítimo e autenticado -- por obra e graça de amigos bem colocados e do pouco caso que se fazia de minudências burocráticas e outros atravancamentos legais, incompatíveis com o calor dos trópicos.A Vida como Ela É? não; Comédia Humana? mais que isso: para nos ficarmos pela colecção de títulos célebres, A Vida É Sonho; a vida como ela deveria ser. Sim, aparecem os estivadores negros dos cais, remeiros, seringueiros, putas de diverso jaez e condição. Mas o centro é o Comandante Vasco Moscoso de Aragão, servido pelo e por vezes desservido, em sua seriedade de personagem, pelo tom pícaro do autor e o sopro poético da sua narrativa, que desde o início acompanhou Jorge Amado.

 

 


17
Set 12
publicado por RAA, às 00:20link do post | comentar
capa de Joaquim Esteves para a 1.ª edição portuguesa de
os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado
Lisboa, Publicações Europa-América, 1962

10
Jun 12
publicado por RAA, às 04:05link do post | comentar

Vou contar a quem a queira ouvir a história da bola Fura-Redes e do goleiro Bilô-Bilô, o Cerca-Frangos, uma historinha para ninguém botar defeito, breve e louca como a vida.

 

Jorge Amado, A Bola e o Goleiro, Lisboa, Contexto, 1986.

 


27
Abr 12
publicado por RAA, às 13:00link do post | comentar | ver comentários (2)

Leio a Peregrinação do Fernão Mendes Pinto, publicada postumamente em 1614, anotada pelo historiador Neves Águas. Grande escrita, da melhor escrita, um incipit inesquecível, dos começos mais arrebatadores de uma narrativa -- porque já sabemos muito do que a seguir leremos:

«Quando às vezes ponho diante dos olhos os muitos e grandes trabalhos e infortúnios que por mim passaram, começados no princípio da minha primeira idade e continuados pela maior parte e melhor tempo da minha vida, acho que com muita razão me posso queixar da ventura que parece que tomou por particular tenção e empresa sua perseguir-me e maltratar-me, como se isso lhe houvera de ser matéria de grande nome e de grande glória; [...]».

E fundamental para sabermos de que massa somos feitos,  nós portugueses, mas também brasileiros, portugueses à solta nos trópicos.

 

Releio Capitães da Areia, do Jorge Amado, publicado em 1937 e queimado em praça pública de Salvador, com todos os livros anteriores do autor, no ano seguinte. Trinta anos depois, verifico que se mantém o encantamento com que então o li. O humor, a poética, a empatia, a envergadura de romancista. Claro que detecto hoje alguns problemas ao nível do estilo, nem sempre cuidado; mas se não há arte sem estilística (e a de Jorge Amado é adequada , porque serve a narrativa em vez de ofuscá-la) -- se não há arte sem estilo, este é insuficiente quando o escritor não é profundo. As estantes das bibliotecas públicas e privadas estão pejadas de monos irrelevantes de autores celebrados pela elegância, monos que nem sequer sobreviveram a quem os escreveu. Não Amado, de quem já alguém disse ter sido o Balzac brasileiro, pela sua dimensão de criador de mundos. Ele será sempre o deus e semi do romance da nossa língua comum -- como Eça caracterizou o (seu) amado Dickens, «deus e semi», em carta a Ramalho ou Oliveira Martins, se bem me recordo, depois de ter chamado a Balzac «semi-deus»...

 

Ah!, e sempre, sempre, muita poesia e muita BD, todos os dias. Os quadradinhos, que permitem a ilusão momentânea da infância e juventude perdidas; a poesia (e a música e a pintura), que quotidianamente antecipa o fim que me espera, o nada a que estou destinado, eu e as paixões da minha vida.


31
Mar 12
publicado por RAA, às 03:11link do post | comentar
À superfície, um livro de histórias, de estórias, engraçadas umas, dramáticas outras; hilariantes muitas, trágicas também. Mas a genialidade de Jorge Amado neste largo conjunto de memórias para um livro que nunca escreverá, no limiar dos seus 80 anos, reside nisto: o que em muitos casos parece ser ligeiro, é, na verdade, um extraordinário repositório de humanidade. Todas as paixões estão aqui, o que não se estranha em quem soube erguer mundos com paixão viril, mais preocupado com a essência, com o sangue, e menos com as «merdolências» das literatices. E fazê-lo com a aparente simplicidade que nos leva a ler estas notas com a voluptuosa gula de quem vai retirando do cacho uva da melhor colheita, só os grandes autores o alcançam.
Ficha: Jorge Amado, Navegação de Cabotagem, Publicações Europa-América, Mem martins, 1992. 574 págs.
Incipit: As notas que compõem esta navegação de cabotagem (ai quão breve a navegação dos curtos anos de vida!), à proporção que me vinham à memória, começaram a ser postas no papel a partir de Janeiro de 1986. Zélia e eu nos encontrávamos num quarto de hotel em Nova Iorque, ambos com pneumonia -- ambos, parece incrível --, febre alta, ameaça de hospital.

18
Mar 12
publicado por RAA, às 23:16link do post | comentar
Um livro infelicíssimo, pura propaganda e da mais básica. Viagem à União Soviética e aos países das chamadas democracias populares. Louvores a Stálin, Jdanov e por aí fora. Muito mal escrito, também. Não parece um livro do Jorge Amado. Não há calor ou alegria; apenas sectarismo e acrítica ingenuidade. Felizmente, o autor retirou-o da lista das suas obras. É, aliás, elucidativo ler o que nas suas memórias, Navegação de Cabotagem (1992) diz a respeito desta obra e do "socialismo surreal" (como já alguém escreveu). Penoso e instrutivo.
ficha: Jorge Amado, O Mundo da Paz -- União Soviética e Democracias Populares, 4.ª edição, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1953.
incipit: Na porta do pequeno hotel boêmio de Paris, em frente à Sorbonne, abraçamo-nos, entre risos, o romancista argentino Alfredo Varela e eu. Êle partia para o aeródromo de Le Bourget onde havia de tomar o avião para Praga, eu segui para o aeródromo de Orly -- o destino do meu avião era Mouscou. Ríamo-nos porque há cinco dias Varela saía todas as manhãs do hotel, num taxi, para o aeroporto e retornava ao meio dia. A névoa, como um lençol pesado e húmido sobre a cidade, impedia a partida dos aviões.

03
Mar 12
publicado por RAA, às 17:04link do post | comentar
Há cerca de 25 anos, em conversa com Franco Nogueira -- que antes de ser conhecido como ministro dos Negócios Estrangeiros de Salazar e, posteriormente, seu biógrafo, fora crítico literário --, o ex-embaixador deu-me a sua opinião sobre Jorge Amado: grande escritor a partir de Gabriela, Cravo e Canela, antes disso um panfletário. É verdade que Gabriela é um livro charneira. Militante do PC brasileiro, esse comprometimentos era evidente em livros como Seara Vermelha ou Os Subterrâneos da Liberdade ( último escrito em simultâneio com O Mundo da Paz, essa sim, uma obra de pura propaganda, de que falarei em breve).
Nunca li Os Subterrâneos, ao contrário de Seara Vermelha (ver aqui). Mas é para mim inegável que narrativas como Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia ou Teras do Sem Fim são obras-primas da literatura comprometida e, só por si, fariam de Amado um autor de primeira grandeza.
O mesmo se passa a partir do referido Gabriela, Cravo e Canela, deste Dona Flor, de os Velhos Marinheiros ou Tenda dos Milagres, entre (muitos) outros. Para os admiradores do Jorge Amado escritor militante, este ter-se-ia aburguesado; para o dos escritor tout-court, o baiano subia um novo patamar na obra romanesca, igualmente artista, igualmente consciente da sociedade que era a sua, mas romancista mais encorpado e mais completo. É um engano pensar que o Jorge Amado de 30 e 40 é diferente do de 60 ou 70, no que respeita à elevada noção que tem do seu ofício de escritor. É, porém, um autor mais livre, menos espartilhado pela canga partidária de que felizmente se libertou.
Dona Flor e Seus Dois maridos (1966) nessa Baía de todos os santos, agora a pequena pátria de Caetano Veloso e Gilberto Gil, por um escritor que nunca foi engravatado, mas agora, menos que isso: é o Jorge Amado de bermudas e sandálias que, sem esquecer este mundo desequilibrado que é o nosso, celebra, com a morte do protagonista masculino, a alegria de se estar vivo.
incipit: Vadinho, o primeiro marido de D. Flor, morreu num domingo de Carnaval, pela manhã, quando, fantasiado de baiana, sambava num bloco, na maior animação, no Largo Dois de Julho, não longe de sua casa. Não pertencia ao bloco, acabara de nele misturar-se, em companhia de mais quatro amigos, todos com traje de baiana, e vinham de um bar no Cabeça onde o whisky correra farto à custa de um certo Moysés Alves, fazendeiro de cacau, rico e perdulário.
Jorge Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Publicações Europa-América, s.l., 1966.
Capa: desenho de Floriano Teixeira
1.ª edição portuguesa: 6000 ex.

19
Fev 12
publicado por RAA, às 23:26link do post | comentar
Escrito aos 20 anos, com todas as fragilidades e todas as qualidades dessa idade, o segundo livro de Jorge Amado. Nele já está todo o Amado, irónico, revolucionário, iconoclasta e grande amante da vida.
incipit: «As nuvens encheram o céu até que começou a cair uma chuva grossa. Nem uma nesga de azul. O vento sacudia as árvores e os homens seminus tremiam. Pingos de água rolavam das folhas e escorriam pelos homens. Só os burros pareciam não sentir a chuva. Mastigavam o capim que crescia em frente ao armazém. Apesar do temporal os homens continuavam o trabalho. Colodino perguntou:
-- Quantas arrobas você já desceu?»
ficha
autor: Jorge Amado (Itabuna, 10.VIII.1912 -- Salvador, 6.VIII.2001)
título: Cacau (1.ª edição, 1933)
fixação do texto: Paloma Amado e Pedro Costa
texto da badana: Eduardo Prado Coelho
colecção: «Bilbioteca Jorge Amado»
editora: Planeta DeAgostini
local: Lisboa
ano: 1999
págs.: 135
ilustrações: Santa Rosa
impressão: Cayfosa, Barcelona
obs.: no interior, retrato do autor por Jordão de Oliveira



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