letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
17
Out 06
publicado por RAA, às 19:23link do post | comentar
A sociedade que [Eça de Queirós] procurou castigar com um látego, que ele achava mesquinha e estúpida, tão convencionalmente parva, tão grotesca e tão pulha, dá-lhe motivo para o maior romance de sua literatura. Porque uma sociedade que é capaz de Afonso da Maia, espécie de rei Lear, da grandeza de Shakespeare, nobre, e terra a terra, másculo e terno, profundo e manso, não é uma sociedade de «porcos», é um mundo de homens com o vigor, a tenacidade e a loucura daqueles que foram muito além da Taprobana.
«Eça de Queiroz e as influências provincianas»,
Livro do Centenário de Eça de Queiroz
(edição de Lúcia Miguel Pereira e Câmara Reys)

publicado por RAA, às 19:21link do post | comentar | ver comentários (2)

16
Out 05
publicado por RAA, às 16:54link do post | comentar
Rio de Janeiro, 10 de Setembro de 1934.

Meu caro Ferreira de Castro.

Acabo de voltar ao Rio e encontrei na Ariel a sua última carta. Agradeço os seus conceitos sobre Cacau e Suor.
Venho de passar quatro meses na Baía, recolhendo um resto de material para um romance sobre negros. Chamar-se-á Jubiabá, nome de um macumbeiro de lá e espero fazer um livro forte, fixando nas duas primeiras partes -- Baía de Todos os Santos e -- Grande Circo Internacional -- todo o pitoresco do negro baiano -- música, religião, candomblé e macumba, farras, canções, conceitos, carnaval místico -- e toda a paradoxal alma do negro -- raça liberta, raça das grandes gargalhadas, das grandes mentiras e raça ainda escrava do branco, fiel como cão, trazendo nas costas e na alma as marcas do chicote do Sinhó Branco. A terceira parte -- A greve -- será a visão da libertação integral do negro pela sua proletarização integral. Que acha v. do plano?
Lhe envio um Boletim de Ariel onde falo em V. Aliás a nota está besta. Mas vale a intenção. V. recebeu meu artigo sobre Terra Fria? Acuse o recebimento.
Mande dizer o que v. está fazendo. Qual o livro que o preocupa no momento? V. tem um grande público aqui no Brasil. Aliás porque v. não envia pro Ariel uma nota sobre a nova literatura de Portugal? Aqui há um certo movimento intelectual que está fazendo alguma coisa. O público nos apoia intensamente. Compra nossos livros. A crítica, é natural, se divide em descompusturas e elogios. Mande o artigo. Porque v. não aparece aqui de novo? Pelo que depreendo dos seus livros v. esteve por aqui em 24. Gostaria de ser seu cicerone numa viagem longa através do Brasil. Vendo as casas coloniais da Baía. Material que em suas mãos daria romances como A Selva.
Me escreva. Agora não saio do Rio tão cedo. O Lins do Rego está em Maceió onde reside. Mandei em carta suas lembranças para ele.
Abrace o seu amigo e admirador
Jorge Amado
Boletim de Ariel
R. Senador Dantas -- 40 -- 5.º
Rio.
In Ricardo António Alves, Anarquismo e Neo-Realismo -- Ferreira de Castro nas Encruzilhadas do Século

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