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Lost in Transaltion, Sofia Coppola já me dera um dos grande filmes dos últimos anos.
Marie Antoinette, que vi ontem, ficará como um dos filmes mais impressivos que guardarei na memória.
Kirsten Dunst está admirável, não repisarei mais o que já outros disseram; ela é a Maria Antonieta que gostávamos tivesse de facto existido.
A atenção da realizadora aos pormenores de conforto e luxo é primorosa e um dos aspectos mais bem conseguidos do filme: do mobiliário e da indumentária às iguarias, desembocando nos ceremoniais e nas festividades, tudo concorrendo para dar de Versalhes o brilho da corte de «grande estrondo» -- nas palavras do diplomata português José da Cunha Brochado, que representara o nosso país junto de Luís XIV.
Gostei particularmente da abordagem de Sofia Coppola ao cerimonial de corte, divertidíssima -- embora, ao contrário do que se possa pensar, todas aquelas regras de precedência de que se compunham as normas de etiqueta fossem mais do que um mecanismo sofisticado dum expediente de futilidade. Antes se tratava de uma construção ideológica de que a coroa francesa lançou mão para controlar a nobreza que, noutros momentos da história de França exacerbara o seu poder à custa da fraqueza do poder real. O que sobressai, contudo, é a acumulação de tensões provocada pelos estritos preceitos comportamentais que não deixam ninguém incólume, nem o próprio rei -- como se verifica nos episódios protagonizados pela du Barry, amante de Luís XV, cuja aceitação nem ela nem o soberano conseguem lograr.
Uma palavra ainda para a transgressão de Sofia Coppola, que traz o selo dos criadores de raça: uma banda sonora que mistura Vivaldi e os Strokes, exemplarmente. (O mesmo sucede com os cartazes, cujo grafismo remete irresistivelmente para o Never Mind the Bollocks, dos Sex Pistols.)
E um pormenor: só reconheci Marianne Faithfull (a imperatriz Maria Teresa de Áustria) pela voz...
Li algures que, ainda no outro dia rodado, Marie Antoinette já é um filme de culto. Não tenho a esse respeito muitas dúvidas.