letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
21
Set 12
publicado por RAA, às 01:33link do post | comentar
do «Pórtico» de O Intervalo
* O protagonista escreve ao autor: Alexandre Novais, por alcunha "o Século XX", autodidacta, colaborador da imprensa obreirista legal e clandestina, antigo secretário da anarco-sindicalista C.G.T. É um operário de escol em que o período foi fértil (basta recordar um jornal como A Batalha). Pede-lhe que conte a sua história pessoal, que tem acompanhado a da centúria em que vive.
* Um projecto que ficou na gaveta, escrito entre 1934 e 1936. Impublicável (como só o foi em 1974...). O Intervalo permanecerá o único capítulo da «Biografia do Século XX», ideia que Castro acalentou nas décadas de 30, 40 e 50.
* Castro assume-se como «escritor farol» (A Epopeia do Trabalho, 1926), aquele que abre caminho, o que "ajuda a ver" (entrevista a José de Freitas, 1966).
* Se esta "biografia", este roman fleuve tivesse ido por diante, haveria A Tempestade? -- não creio.; A Lã e a Neve? -- quase de certeza; A Curva da Estrada? -- improvável, mas quem sabe; A Missão? -- curta novela, é possível, mas fora da série; A Experiência -- porque não?; As Maravilhas Artísticas do Mundo? -- tenderia a dizer que não, mas com o desígnio que lhe subjaz, talvez, embora menos avantajada nas suas mais de mil páginas...; O Instinto Supremo? -- talvez Castro fosse mais tentado a fugir à promessa de escrever um livro a propósito de Rondon; assim como não escreveu a biografia de Kropótkin que Martins Fontes lhe pedira, e para a qual ele chegou a coligir material...
* A verdade é que o «Pórtico» geral de Os Fragmentos, que acolhe O Intervalo é escrito a 16 de Julho de 1969 -- «dia resplandecente para o génio humano da nossa época» -- quando Neil Armstrong, Buzz Aldridge e Michael Collins partiram para a Lua. A mesma crença e a mesma preocupação testemunhal do progresso do homem e das ideias se mantém no fim da vida. Não por acaso ele persistiu (e levou avante a intenção, mesmo que postumamente) que este fragmento do que projectara fosse publicado.

23
Jun 06
publicado por RAA, às 23:46link do post | comentar
O INDIFERENTE

Ao Poeta Luís Edmundo, no dia da nossa
visita ao Salão La Case, no Louvre.

Les donneurs de sérénades
Et les belles écouteuses
Échangent des propos fades...

Watteau-Verlaine-Samain
Fêtes Galantes

No azulor do silêncio o parque se edulcora...
Luarizam-se os cetins, afinando os corpetes...
Desprendem-se os roclós, soltam-se os manteletes...
Sons de viola de amor, mandolina ou mandora...

Vinhos de Asti e Tokay... Granadinas de Angora...
Confeitilhos. Bombons. Caramelos. Sorvetes.
Ruge-ruges... A ouvir-lhe o flautim dos falsetes,
Da canção de Damis Climène se enamora...

Ré... mi... sol... si... lá... lá... Afectadas, fictícias,
Fluidicamente, as mãos arpejam as carícias...
-- Ui! que frívola eu sou! -- Oh! tão frágil não és...

E o indiferente, a sós, na pelúcia da brisa,
Violeta azul que em tons de opala se arcoirisa,
Gracilmente desfolha o coração de Agnès!

Schahrazade / Poesias Completas

publicado por RAA, às 23:45link do post | comentar

03
Mai 06
publicado por RAA, às 20:19link do post | comentar
ALVURAS

Ofertou-lhe uma túnica um vizinho,
Ampla, de larga roda e alto capucho.
E ele a vestiu, sem lhe notar o luxo,
Grato a essa utilidade e a esse carinho.

E saiu. Mas, na curva de um caminho,
Topa com um velho anão, tardo e gorducho,
Tipo de serviçal, talvez de bruxo,
Que ia à feira vender um cordeirinho.

Logo o Santo lhe diz que trocaria
Sua túnica pelo companheiro
Anho, que, nos seus braços, não balia.

E, unidos por afecto verdadeiro,
Não mais se separaram, nem um dia,
São Francisco de Assis e o seu cordeiro.

I Fioretti

publicado por RAA, às 20:17link do post | comentar
Posted by Picasa

14
Jul 05
publicado por RAA, às 02:43link do post | comentar
Eu devia êste livro a essa Amazonia longínqua e enigmática, pelo muito que fez sofrer os primeiros anos da minha adolescência e pela coragem que me deu para o resto da vida. E devia-o, sobretudo, aos anónimos desbravadores, gente humilde que me antecedeu ou acompanhou na brenha, gente sem crónica definitiva, que à extracção da borracha entrega a sua fome, a sua liberdade e a sua existência. Livro bárbaro, como a vida que enquadra, como o scenário que lhe serve de fundo, êle completa em muitos pontos, à margem do entrecho, o meu romance «Emigrantes».
Num, a paísagem ridente do sul do Brasil; noutro a paísagem magestosa do Norte. Em «Emigrantes», o exílio pelo estômago; neste, o destêrro pelo espírito. E nos dois, a uni-los indissoluvelmente, a luta pela vida, a conquista do pão, a miragem do oiro -- um oiro negro que é miséria, sofrimento e quimera com que os pobres se enganam. (...)
Do «Pórtico», 1ª edição
Nota: as naturais referências aos seringueiros, «à gente sem crónica definitiva», objecto das preocupações sociais do autor. A conquista do pão é um dos mais conhecidos e importantes livros do príncipe Piotr Kropótkin, uma das grandes figuras da história do anarquismo, influência decisiva em Ferreira de Castro, sobre quem, de resto, projectou escrever uma biografia, nos anos 30, a pedido do poeta brasileiro Martins Fontes, um devoto do libertário russo.

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