letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
09
Abr 11
publicado por RAA, às 15:48link do post | comentar

23
Jan 11
publicado por RAA, às 18:10link do post | comentar | ver comentários (4)
Já há algum tempo que dei por mim surpreendido com a circunstância de quanto mais o tempo passa mais agradável se me torna ouvir o The Wall, dos Pink Floyd, inversamente ao fastio que me vão provocando os outros álbuns que preencheram a minha adolescência: o Dark Side of the Moon, o Wish You Were Here e o Animals. Nesses idos de 79, chocalhado pelo pós-punk, comprei, ouvi, gostei e guardei o The Wall, aborrecido com o chinfrim à volta da censura ao hit «Another brick...», que tresandava a publicidade irritante. A verdade é que se trata de um grande (duplo) disco, escrito e composto ali com as vísceras todas do Roger Waters, traumatizado órfão de guerra. São 26 pequenas obras-primas, na melhor tradição do rock britânico, onde também há lugar para o riquíssimo veio oitocentista do musical londrino. Mason, Wright, Gilmour e Waters formam um quarteto arrebatador e inspirado; e Bob Ezrin, co-produtor esteve à altura do dramatismo, por vezes grandiloquente, que Waters pretendeu. Fiquei surpreendido, é verdade, mas sem razão. O Waters pôs-se todo lá, e quando é assim, é difícil uma obra não resistir ao tempo.

Nota: postado em 3 de Abril de 2005, com o  título «In The Flesh».

05
Dez 06
publicado por RAA, às 19:46link do post | comentar


26
Nov 05
publicado por RAA, às 15:33link do post | comentar

Escrevendo sobre The Dreaming, o crítico da Rock & Folk Jean-Marc Bailleux comparou (R&F n.º 190, 1982) este álbum aos míticos Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band e The Dark Side of the Moon. Pois quanto a mim, o quarto disco de Kate Bush é melhor do que aqueles trabalhos dos Beatles e dos Pink Floyd. O Dark Side não resistiu ao tempo; ouve-se hoje mais por curiosidade que por necessidade; quanto ao LP dos Fab Four, conquanto eles não tenham feito discos maus, sequer medíocres, o Sgt. Pepper foi alvo dos maiores ditirambos, nem sempre justificados. Não é o melhor dos Beatles, embora lá exista -- como em todos os outros títulos -- um punhado de obras-primas: «With a little help from my friends», «She's leaving home» ou «A day in the life».
Regressando a Kate, já se viu, pelo que ficou escrito, que estamos a falar dum disco de excepção. Kate Bush -- que acabou de lançar um duplo CD, após anos de silêncio -- é, aliás, uma artista notável: compositora, letrista, cantora, instrumentista, coreógrafa, bailarina, actriz... Além disso, é muito bonita, o que torna tudo ainda mais agradável.
Os que lhe estudam a obra costumam referir-se ao que poderíamos chamar o estranho mundo de K. B. Ana Rocha, v.g., referiu-se, em artigo publicado há uns bons anos na saudosa Música & Som (n.º 61, 1981), à circunstância de «a fronteira entre o mundo adulto e o infantil [ser] frequentemente esbatida e diluída». E por mais evidente que surja o cosmopolitismo e a mundividência, existe esse ambiente de estranhamento, além de uma certa englishness que lhe povoa as canções.
Em termos musicais, The Dreaming revela o efeito provocado pelo terceiro LP de Peter Gabriel, em que Kate Bush participou -- como viria, dois discos mais tarde, em So, a fazer um inesquecível dueto com o ex-vocalista dos Genesis. Há composições em que essa inspiração me parece notória, sem subjugar a poderosa personalidade da autora de «Wuthering Heights».
É-me difícil destacar temas, de tal maneira estão conseguidos. A produção, também da sua responsabilidade, é um primor de contenção, bom-gosto, ideias bem arrumadas e, de novo, personalidade.
Uma referência para David Gilmour -- o músico que a revelou --, numa curta mas interessante participação em «Pull out the pin», uma das músicas soberbas deste disco.; e outra para o seu irmão, Paddy Bush, luthier e músico de grandes recursos, uma figura-chave no processo criativo de Kate.
Há vinte e tal anos que ouço The Dreaming regularmente, sem perda da capacidade de encantamento inicial -- a tensão e a estesia que nos proporcionam as obras de arte.

03
Abr 05
publicado por RAA, às 16:22link do post | comentar
Já há algum tempo que dei por mim surpreendido com a circunstância de quanto mais o tempo passa mais agradável se me torna ouvir o The Wall, dos Pink Floyd, inversamente ao fastio que me vão provocando os outros álbuns que preencheram a minha adolescência: o Dark Side of the Moon, o Wish You Were Here e o Animals. Nesses idos de 79, chocalhado pelo pós-punk, comprei, ouvi, gostei e guardei o The Wall, aborrecido com o chinfrim à volta da censura ao hit «Another brick...», que tresandava a publicidade irritante. A verdade é que se trata de um grande (duplo) disco, escrito e composto ali com as vísceras todas do Roger Waters, traumatizado órfão de guerra. São 26 pequenas obras-primas, na melhor tradição do rock britânico, onde também há lugar para o riquíssimo veio oitocentista do musical londrino. Mason, Wright, Gilmour e Waters formam um quarteto arrebatador e inspirado; e Bob Ezrin, co-produtor esteve à altura do dramatismo, por vezes grandiloquente, que Waters pretendeu. Fiquei surpreendido, é verdade, mas sem razão. O Waters pôs-se todo lá, e quando é assim, é difícil uma obra não resistir ao tempo.

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