letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
10
Dez 06
publicado por RAA, às 16:59link do post | comentar
Porto, 11 de Setembro de 1949
Meu prezado e bom Amigo Ex.mo Snr. Roberto Nobre
Na página literária do «Janeiro» de 4ª feira passada veio uma extensa e muito elogiosa notícia crítica do meu livrinho, subscrita pela letra A.; fui lá agradecer, e soube que era do snr. Jayme Brazil, a quem vou portanto agradecer também, para o que pedi a morada dele em Paris.
Mandei um recorte ao Dr. Câmara Reys, nosso comum amigo, e não [sei] se ele lho mostrou, ou se VExª terá visto a crítica no próprio Janeiro. Começa por fazer referências muito generosas às minhas actividades em filologia germânica, e em especial quanto a Shakespeare, acrescentando que me devia ser dada uma bolsa de estudo para estudar e investigar em Inglaterra, e em seguida passa em revista todo o livrinho, com bastante minuciosidade e compreensão. A única nota discordante -- embora também amável -- é chamar «monumental» à minha obra «Shakespeare e o Drama Inglês»; eu reconheço, sem falsa modéstia, que ela é bastante completa, bem informada, actualizada e... muito condensada; mas daí a «monumental», vai um bocado, e quem ler a crítica e conhecer o livro, estranhará talvez um pouco o epíteto.
Mas é uma crítica extremamente bondosa, tanto pela extensão como pelo fundo, e como sei que a devo em grande parte à iniciativa gentilíssima de VEx.ª, é a VEx.ª que primeiro agradeço. Em Outubro irei a Lisboa, e lá fá-lo-ei pessoalmente. Eu tenho andado a traduzir para inglês uns trabalhos de psicotecnia; tive, é claro, que estudar o assunto, e como me deram pouco tempo, o esforço foi grande, e dura há um mês, pouco mais ou menos. O que vale é que me rende uns três contos; é pouco ainda para o número de horas que me levou, mas... pecuniàriamente é melhor que «Os Problemas do Hamlet», que nada me renderam, aliás por proposta minha inicial. Agora gostava de escrever sobre «As tendências actuais dos estudos shakespeareanos», ou coisa parecida -- um tema em que cabia muita coisa; mas tenho actualmente a vida muito embrulhada, e sinto-me velho e cansado, além do que o assunto demandava grande bibliografia, que não sei se poderei obter. «Os Problemas do Hamlet» foram uma deliciosa aventura, em que os livros necessários -- os mais necessários, pelo menos -- foram «vindo pelo ar», sponte sua aparentemente, dos vários pontos cardiais, e as várias-das-peças do puzzle se foram também encaixando por si mesmas nos seus devidos lugares... Mas o que eu pretendia agora é obra de mais vulto: terei eu tempo, forças, paciência e elementos para a levar a cabo?
Mas não abuso mais da sua bondade -- e até Outubro. Renovo os meus mais rendidos agradecimentos, e sou sempre
o de VEx.ª
admirador e amigo muito reconhecido
Luiz Cardim
«Sete Cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre»,
Boca do Inferno, n.º 1
(edição de Ricardo António Alves)

27
Ago 06
publicado por RAA, às 16:56link do post | comentar | ver comentários (2)
S/c R. Dº Notícias 44-1º
Lisboa 23/3/925
Meu caro Roberto:
Como vai V.? Louvo-lhe a coragem por uma tão grande ausência... Noutra carta e mais de vagar hei-de increpá-lo por isso. V. não tem o direito de afastar-se assim do campo da luta. Enfim, falaremos mais pausadamente para outra vez.
Por agora quero dizer-lhe que só ontem tomei conhecimento da s/ carta para o Assis. Tratei do caso que nos dizia respeito. Falei com Anahory do A.B.C. Ele aceitou a sua colaboração. E parece-me que V. vai ficar -- fica certamente -- como colaborador efectivo e com muito trabalho. Aí vão agora dois trabalhos meus, que V. devolverá com os desenhos o mais depressa possível. (O Julião Quintinha, entrando ontem no meu gabinete, levou-me a interromper esta carta...)
Portanto, como lhe dizia há 24 horas, V. fica como coalborador do A.B.C., a não ser que a fatalidade se coloque de permeio... O Anahory, a quem mostrei o livro pª crianças que V. ilustrou, ficou bem impressionado. Para sossego da sua sensibilidade, devo dizer-lhe que isto não foi devido à minha retórica ou à minha amizade por si -- mas pelo seu próprio valor e pelo Anahory -- cá para nós -- precisar de mais um desenhador... Logo tratarei com ele sobre preços.
Falei também com o Mário Domingues, que está dirigindo a edição da Batalha (diária). Aceita com muito prazer um boneco seu, para os domingos. Exige-se apenas uma condição: que o boneco seja de acordo com o carácter do jornal, é dizer, que seja de crítica a qualquer facto da burguesia. Para isso talvez você se inspirasse lendo a própria Batalha... Legenda e assunto ao seu critério. Pagam quinze escudos por cada desenho. Agrada-lhe Roberto? Eu escuso de dizer que a mim agradava muito que V. principiasse a surgir nos jornais de Lisboa. Quanto ao Suplemento ainda não falei com o Pinto Quartim, que o dirige. Mas estou certo que ele aceitará também a sua colaboração.
Adeus, meu amigo. Escreva-me, mande-me os desenhos do A.B.C. -- depois, v. tratará directamente com o secretário da redacção, que lhe enviará os trabalhos e a «massa» -- e diga-me coisas... Um grande abraço do amigo, que tem que lhe dar uma grande sova por esse isolamento que é quase um renúncia (ou não?)
JM Fereira de Castro
Correspondência (1922-1969)
(edição de Ricardo António Alves)

17
Jan 06
publicado por RAA, às 23:01link do post | comentar | ver comentários (7)















Em flagrante decilitro!

16
Out 05
publicado por RAA, às 16:54link do post | comentar
Rio de Janeiro, 10 de Setembro de 1934.

Meu caro Ferreira de Castro.

Acabo de voltar ao Rio e encontrei na Ariel a sua última carta. Agradeço os seus conceitos sobre Cacau e Suor.
Venho de passar quatro meses na Baía, recolhendo um resto de material para um romance sobre negros. Chamar-se-á Jubiabá, nome de um macumbeiro de lá e espero fazer um livro forte, fixando nas duas primeiras partes -- Baía de Todos os Santos e -- Grande Circo Internacional -- todo o pitoresco do negro baiano -- música, religião, candomblé e macumba, farras, canções, conceitos, carnaval místico -- e toda a paradoxal alma do negro -- raça liberta, raça das grandes gargalhadas, das grandes mentiras e raça ainda escrava do branco, fiel como cão, trazendo nas costas e na alma as marcas do chicote do Sinhó Branco. A terceira parte -- A greve -- será a visão da libertação integral do negro pela sua proletarização integral. Que acha v. do plano?
Lhe envio um Boletim de Ariel onde falo em V. Aliás a nota está besta. Mas vale a intenção. V. recebeu meu artigo sobre Terra Fria? Acuse o recebimento.
Mande dizer o que v. está fazendo. Qual o livro que o preocupa no momento? V. tem um grande público aqui no Brasil. Aliás porque v. não envia pro Ariel uma nota sobre a nova literatura de Portugal? Aqui há um certo movimento intelectual que está fazendo alguma coisa. O público nos apoia intensamente. Compra nossos livros. A crítica, é natural, se divide em descompusturas e elogios. Mande o artigo. Porque v. não aparece aqui de novo? Pelo que depreendo dos seus livros v. esteve por aqui em 24. Gostaria de ser seu cicerone numa viagem longa através do Brasil. Vendo as casas coloniais da Baía. Material que em suas mãos daria romances como A Selva.
Me escreva. Agora não saio do Rio tão cedo. O Lins do Rego está em Maceió onde reside. Mandei em carta suas lembranças para ele.
Abrace o seu amigo e admirador
Jorge Amado
Boletim de Ariel
R. Senador Dantas -- 40 -- 5.º
Rio.
In Ricardo António Alves, Anarquismo e Neo-Realismo -- Ferreira de Castro nas Encruzilhadas do Século

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