Já há algum tempo que dei por mim surpreendido com a circunstância de quanto mais o tempo passa mais agradável se me torna ouvir o The Wall, dos Pink Floyd, inversamente ao fastio que me vão provocando os outros álbuns que preencheram a minha adolescência: o Dark Side of the Moon, o Wish You Were Here e o Animals. Nesses idos de 79, chocalhado pelo pós-punk, comprei, ouvi, gostei e guardei o The Wall, aborrecido com o chinfrim à volta da censura ao hit «Another brick...», que tresandava a publicidade irritante. A verdade é que se trata de um grande (duplo) disco, escrito e composto ali com as vísceras todas do Roger Waters, traumatizado órfão de guerra. São 26 pequenas obras-primas, na melhor tradição do rock britânico, onde também há lugar para o riquíssimo veio oitocentista do musical londrino. Mason, Wright, Gilmour e Waters formam um quarteto arrebatador e inspirado; e Bob Ezrin, co-produtor esteve à altura do dramatismo, por vezes grandiloquente, que Waters pretendeu. Fiquei surpreendido, é verdade, mas sem razão. O Waters pôs-se todo lá, e quando é assim, é difícil uma obra não resistir ao tempo.