letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
01
Dez 06
publicado por RAA, às 18:04link do post | comentar | ver comentários (3)
A última viagem papal foi um êxito assinalável, não só para o Vaticano como para o mundo islâmico moderado e também para o Estado turco.
A visita, que decorreu num tom de grande cordialidade (a irrelevância dos extremistas islamo-nacionalistas (!) foi notória), revelou a possibilidade de um diálogo assente no mútuo respeito e consideração.
A Santa Sé conseguiu aligeirar a pressão orquestrada por aqueles que no Islão estão interessados na destruição do Ocidente, da laicidade, das sociedades liberais e das influências destas nos territórios que consideram dever estar sob os seus ditames. Neste particular, o exemplo das autoridades religiosas turcas veio mostrar à chamada «rua muçulmana» (não propriamente a rua turca, antes algumas ruelas árabes) que nem tudo passa obrigatoriamente pelos «morras» ao que lá é percepcionado por Ocidente.
O inteligente sinal político que o Papa deu a respeito da adesão da Turquia à UE teve o benefício de atenuar o desastre que é a ausência de uma política de Bruxelas em face dessa adesão que está em cima da mesa, e que não se compadecerá com muito mais manobras dilatórias, sob pena de, perante uma humilhação estúpida, a Turquia voltar as costas à UE, o que seria trágico. Entre os receios alemães (até certo ponto compreensíveis dada a enorme colónia emigrante turca existente no seu território), a abjecção francesa, que tem o caos instalado em casa, e que não quer turcos nem polacos e se pudesse despachava expeditamente os bons dos portugueses no sud-express, e a atitude construtiva de Blair, o gesto de Bento XVI foi de grande agudeza, e com a possibilidade de um mais positivo desenvolvimento futuro desta questão.

09
Nov 06
publicado por RAA, às 23:51link do post | comentar | ver comentários (2)
As fronteiras da Europa devem estar nas fronteiras da Europa e não dentro das fronteiras da Europa. Logo, a Turquia, que por enquanto não é cindível, deverá estar do lado de cá, porque está no lado de cá. E o que está no lado de lá -- que está do lado sudeste da Geórgia --, faz parte do território fronteiriço da Europa. Como, por outras palavras já disse, a propósito desta conveniência de estar.

28
Set 06
publicado por RAA, às 22:24link do post | comentar | ver comentários (6)
Hoje, no Público, José Pacheco Pereira pronuncia-se a favor da adesão da Turquia à União Europeia, com um argumento geo-político essencial: «A Turquia não é um pequeno país, é uma potência regional, com uma área de influência que se estende das repúblicas asiáticas à China. E, para além disso, entra para a UE um dos poucos exércitos credíveis existentes na Europa. [...] Para a estabilidade da Europa, precisamos da Turquia e da Turquia do nosso lado.»
A herança cultural turca é enorme, nomedamente nos Balcãs; os turcos (etnia proveniente das estepes asiáticas, como os húngaros e os finlandeses) são Europa e estão na Europa há séculos, fazendo tanto sentido a sua adesão como a dos romenos e búlgaros, agora à soleira da porta.
É duma Turquia laica que falo, duma Turquia integralmente respeitadora da liberdade dos seus cidadãos, incluindo da dos curdos, uma Turquia que respeita a integridade de Chipre, uma Turquia que reconheça o seu passado para o bem e para o mal, como o tem de fazer relativamente à Questão Arménia. É uma Turquia de cidadãos europeus, em Istambul, em Ancara, em Esmirna, cuja modernidade não perde em confronto com a de muitas regiões da União Europeia. É evidente que há problemas, há atavismos seculares, há primitivismo, como existe entre nós meia dúzia de quilómetros andados para lá de Lisboa ou do Porto.
Finalmente, durante séculos, o Império Otomano serviu de refúgio aos perseguidos religiosos, designadamente aos judeus, aos judeus portugueses, convém lembrar. Por isso, nestes tempos difíceis de fanatismo religioso, de terrorismo em nome da religião, há que estender a mão a um país de grande dimensão e dignidade que anseia (tal como nós ansiámos) por estar na Europa democrática, livre e laica a que pertence por direito.

16
Jul 06
publicado por RAA, às 13:33link do post | comentar | ver comentários (5)

No restaurante onde almoço regularmente tive um dia destes a vizinhança de quatro académicos turcos, em Portugal ao abrigo de um programa comunitário. Estão a gostar imenso do país, mas lamentam a profusão de pratos com carne de porco que lhes são oferecidos nas ementas das casas de pasto. Um deles, que vivera nos Estados Unidos, disse-me, com certa solenidade: «We don't eat pork.» Intimamente senti o incómodo de estar diante de gente aberta na aparência, europeus como o quis Ataturk, e -- sempre para mim --, lamentei estes simpáticos scholars, já atingidos pela peste do fundamentalismo religioso e inibidos pelo seu preceituário negro. Porque, das duas, uma: ou eles são realmente observantes e repelem as bifanas (o que, para um laico como eu-- de formação católica, embora --, faz tanto sentido como privar-me de comer um bife à Trindade por ser sexta-feira); ou, também não muito tranquilizador, assumem com esta atitude, uma «etnicidade» vincada, atitude que, a generalizar-se, dificultará a sua entrada na UE, entre outras consequências pouco simpáticas.
E pensar que, há vinte e tal anos, por esta altura do ano, confraternizava descontraidamente num café de Paris com um grupo de argelinos, refrescando a noite de verão a sumos e... cerveja!

mais sobre mim
Novembro 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9

15


25
26
27
28
29
30


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO