letras, sons, imagens -- revolução & conservação -- ironia & sarcasmo -- humor mau e bom -- continua preguiçoso
12
Dez 06
publicado por RAA, às 19:44link do post | comentar | ver comentários (2)
Desde as seis e meia da manhã que se ouviu pelas ruas o toque de chamada. Às onze, saio. As ruas estão desertas, as lojas fechadas; vê-se, lá de longe a longe, passar uma velhota. Sente-se que Paris inteiro se derramou para um dos lados da cidade, como um líquido num recipiente inclinado.
O Funeral do Imperador
(tradução de Luiza Neto Jorge)

publicado por RAA, às 19:42link do post | comentar


26
Nov 06
publicado por RAA, às 16:33link do post | comentar
Bruxelas, 1.º de Março de 1902
7, rue Zinner
Meu caro Batalha
Você não respondeu à minha carta pedindo-lhe conta dos seus fornecimentos à Gazeta, sem dúvida por não ter tido tempo de descobri-la entre a sua imensa papelada. Não suponho que a sua conferência sobre V. H.* lhe tenha tomado mais tempo do que o necessário para escrevê-la (tive um [?] que facilitava assim estas coisas da escrita). Pela notícia demasiado resumida do Daily Chronicle vi que V. coloca o maior lírico dos tempos todos acima de Shakespeare e de Goethe. Hombre!... Não imagina o gosto que tive em vê-lo assim diante de Ingleses como aos vinte anos diante da Opinião. Se vivesse o nosso pobre Queiroz escrevia-lhe decerto uma carta de quarenta páginas, à pena solta.
Sabe que só agora li o Ramires? E com que ternura acompanhei a formação daquela figura e o processo da escrita, descobri movendo-se por entre as almas tipos, a alma do nosso saudoso amigo. Notou V. como nos seus últimos livros entra a paisagem como elemento de emoção, a paisagem como fisionomia e expressão? Foi depois que ele inventou os adjectivos abstractivos e morais, subjectivos, para as coisas sem alma, a que ele emprestava a sua imaginativa. Dez anos mais e saúde, e o Queiroz romperia as barreiras da língua portuguesa, poeta de peregrina inspiração, ainda mais do que artista, que era o que ele queria ser...
Tinha muita coisa para lhe dizer e de repente secou-se-me tudo. Interrompi-me para receber uma visita, que me ensurdeceu. Fica para outra vez.
Escreva-me. Dê as minhas saudades aos seus e receba um abraço do seu amigo do coração
Domício
In Beatriz Berrini, Brasil e Portugal: a Geração de 70
*Victor Hugo

27
Mar 06
publicado por RAA, às 19:42link do post | comentar
A dor é um fruto que Deus não faz surgir / Num ramo frágil demais para o suportar.

«A Infância» [Les Contemplations] / Poemas
(tradução de Manuela Parreira da Silva)

publicado por RAA, às 19:41link do post | comentar

31
Mar 05
publicado por RAA, às 23:54link do post | comentar | ver comentários (2)
A casa onde morreu Almeida Garrett está em risco, por abandono e especulação. Somos um país de alarves, ainda atiramos lixo pela janela do carro, não temos civilização para respeitar a memória espiritual de quem foi enorme no seu tempo, apesar de todas as humaníssimas fraquezas. Somos um país de lepes, canalha de mão estendida a quem encheram os bolsos sem antes ensinarem a mastigar de boca fechada. O resultado é esta vileza. Demolir aquilo é como arrasar a casa de Dickens em Londres, onde ele só viveu escassos meses, mas está lá, para ser visitada; é como destruir a casa de Balzac em Paris, onde o homem viveu com um nome falso, e mesmo assim não se livrava dos credores, e também lá está. Mas é pior, muito pior para nós, periféricos, provincianos, tão atrasados que até envergonha. Eles, ingleses e franceses têm tanto, e tantas casas, de Dickens, de Balzac, de Thackeray, de Hugo, de... E nós temos tão pouco...

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